Debate quente na Câmara: vereadores questionam dados da saúde, mas secretário reforça transparência da gestão

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Na manhã desta terça-feira (26), a Câmara de Vereadores de Petrolina recebeu a audiência pública para a apresentação do 1º Relatório Detalhado do Quadrimestre Anterior (RDQA) de 2025, referente aos meses de janeiro a abril, em cumprimento à Lei de Responsabilidade Fiscal e à Lei Complementar nº 141/2012. O encontro contou com a presença do secretário municipal de Saúde, João Luís Nogueira Barreto, da secretária-executiva de Administração, Beatriz Mota, e do secretário de Vigilância em Saúde, Acácio Andrade, e foi palco de um intenso debate entre vereadores da base e da oposição em torno da qualidade e da transparência dos serviços prestados à população.

O vereador Dhiego Serra abriu as críticas questionando a baixa evolução dos números apresentados. Ele comparou o relatório atual com o quadrimestre anterior e classificou os dados como “mínimos” diante do crescimento da cidade. “Foram feitas apenas 400 mamografias, enquanto o mutirão do governo do Estado realizou mais de 5 mil procedimentos em poucos dias. Na ultrassonografia, apenas 280 exames. Isso é uma vergonha. Eu acredito que tem vereador aqui que ajuda mais o povo do que a própria prefeitura tem feito”, disparou.

Na mesma linha, o vereador Gilmar Santos acusou a gestão de omitir informações fundamentais. Segundo ele, os dados apresentados não permitem avaliar corretamente a saúde do município. “É um faz de contas. Não tem indicador, não tem meta, não tem justificativa. É um conjunto de dados soltos que impossibilita comparações sérias. O que vemos é negligência na atenção básica e na oferta de cirurgias. A população depende do governo do Estado porque o município não garante o básico”, afirmou, ao cobrar explicações sobre a crise no TFD, serviço que transporta pacientes para tratamento fora de Petrolina.

O vereador Ronaldo Cancão rebateu as críticas feitas por Gilmar Santos e rebateu as críticas sobre o TFD, argumentando que o município cumpre sua responsabilidade e que muitas das dificuldades enfrentadas pelos pacientes são de competência do governo estadual. “Levam de forma leviana a ideia de que a culpa é da prefeitura, quando, na verdade, o problema está na rede hospitalar do Recife. Por isso se chama Tratamento Fora do Domicílio. Eu mesmo tenho um vizinho que aguarda há três anos por uma cirurgia ortopédica. Foi quatro vezes ao Recife e, no fim, o hospital pediu que ele entrasse na justiça em Petrolina para conseguir a cirurgia por decisão judicial. E ainda querem colocar isso na conta do município.”

Em defesa da gestão, a vereadora Rosarinha Coelho destacou o empenho da equipe da saúde e afirmou que o relatório apresentado é transparente. “Os números falam tanto quanto as palavras. Sei o quanto é desafiador gerir saúde pública, já estive dos dois lados, e reconheço o trabalho que vem sendo feito. O prefeito Simão Durando tem uma determinação muito grande com a saúde. Temos problemas, mas não se pode negar a dedicação da gestão e o esforço em garantir qualidade nos serviços”, ponderou.

O secretário João Luís respondeu às críticas garantindo a veracidade dos dados e admitindo apenas um erro material em relação às testagens de água. Ele ressaltou a experiência na área jurídica do SUS e defendeu que o relatório segue padrões técnicos. “Apresentamos o RDQA desde 2017 e nunca houve questionamentos sobre os números. Estou aberto a ouvir, mas os dados são fidedignos. Tenho respeito pelos vereadores e pela população. A saúde de Petrolina avança com responsabilidade e diálogo”, afirmou.

Sobre o TFD, João Luís relatou que 64 pacientes foram embarcados no dia anterior e que o serviço vem sendo ampliado após recontratualização com a empresa responsável pelo transporte. Ele rebateu críticas sobre a alimentação servida aos pacientes, relatando que a dieta é orientada por nutricionistas, e afirmou que a gestão trabalha para aumentar a capacidade de atendimento, sem abrir mão da responsabilidade.

O tom mais duro veio do vereador Ronaldo Silva, que voltou a chamar o Hospital Municipal de “fake news”. Para ele, a unidade não passa de uma policlínica melhorada, incapaz de responder às necessidades da população. “Vocês têm 12 leitos, não tem uma cama sequer. Chamam aquilo de hospital, mas não fazem uma sutura. É um lugar que abre às 7h e fecha às 5h da tarde. Vai enganar o velho, rapaz. Petrolina merece respeito. Isso é brincar com a inteligência do povo”, criticou. Cancão também lembrou que o centro de parto do município registra apenas 25 a 30 nascimentos por mês, contra uma média de 600 no Dom Malan, e cobrou urgência na construção ou contratação de uma maternidade.

A vereadora Maria Elena reconheceu as dificuldades, mas lembrou que Petrolina recebe uma demanda gigantesca de pacientes de outros municípios, o que pressiona a rede. “Chegam ambulâncias de Afrânio, do Piauí, de Picos, e muitas vezes a prioridade é atender os de fora, enquanto nossa população espera. Isso precisa ser repensado. Mas não podemos dizer que há maquiagem. Aqui o relatório é levado a sério”, declarou.

João Luís encerrou a audiência reforçando que o Hospital Municipal avança gradativamente e que a previsão é de que funcione em regime 24 horas assim que a licitação para aquisição de leitos for concluída. “O hospital não é fake. Está registrado no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde e foi pensado para pequenas cirurgias, avançando agora para procedimentos de média complexidade. Já iniciamos vasectomias e vamos avançar para laqueaduras, hérnias e vesículas. É um processo responsável, e a população vai ver os resultados”, garantiu.

A audiência evidenciou as divergências sobre a situação da saúde em Petrolina, com vereadores da oposição acusando a prefeitura de maquiagem nos números e descaso com a população, enquanto a base do governo defendeu o relatório e reforçou o compromisso de avanços graduais. O que ficou claro, no entanto, é que a saúde segue como um dos pontos mais sensíveis e disputados no debate político da cidade.