Com o prazo para desocuparem as casas do Novo Tempo V se esgotando, as famílias que em breve estarão desabrigadas estão organizando duas novas ocupações em Petrolina. Ambas serão localizadas no bairro Pedra Linda. Parte das 100 famílias que estavam no residencial vão permanecer em barracos montados em um terreno vizinho ao conjunto habitacional. A outra parte vai morar na entrada no bairro nas habitações improvisadas com pedaços de madeira e lonas. Muitos precisam de doação de material para concluir suas “casas”.
“Muitos que estavam ocupando as casas não tiveram para onde ir. Então todos resolveram se juntar e montar os barracos. Ontem muita gente dormiu no chão, pegando poeira com as crianças, no frio, no escuro, com muriçocas porque é necessidade mesmo. Até os postes foram desligados aqui. A gente só teve a resposta que em 40 dias seria resolvido, só que não trouxeram nenhum papel para a gente ver, o acordo foi de boca”, relatou Malu Luane, uma das lideranças do movimento.
Ainda de acordo com Malu, recentemente houve uma reunião com representantes da Secretaria Municipal de Habitação e várias coisas foram acordadas, entretanto os demais integrantes da ocupação não sabem ao certo o que ficou definido. “Ela [a representante do grupo] nos abandonou. Só nos passou que em 40 dias tudo seria resolvido e pronto. Dia 12 seriam feitos os dossiês de quem não tinha e quem tivesse os dossiês iria para dentro de uma casa, mas até agora nada. a gente quer um posicionamento da Prefeitura porque não temos para onde ir. Queremos papel assinado com pessoas que sejam de confiança, que levem para a gente o que está acontecendo e não peçam silêncio aos que estiverem lá juntos [nas reuniões]”.
Aline Costa perdeu o pai durante a ocupação. Apesar de já ter sido contemplada pelo programa habitacional do município, ela reconhece a necessidade das demais famílias que permanecem no local. “Eu estou apoiando o movimento porque eu sei o que é uma invasão. Eu morei em uma dos 09 aos 22 anos. É difícil, isso aqui não é dignidade não. Meu pai se matou nessas casinhas aí, porque queria uma casinha, desde 2009. Ele era do Cacheado (invasão), mas teve problemas em um documento e não foi contemplado lá. Minha mãe está aí e precisa de uma casa. Todo mundo que está aí está porque precisa”.
Marizete Barbosa é uma das integrantes da ocupação a cobrar respostas. “A gente não pode ficar aqui desse jeito sofrendo. Aqui temos crianças, mães e pais desesperados. Não tem água e nem energia e temos até sábado para desocupar essa casa. Quem vem aqui pode ver que esses barracos não estão certos para que possamos entrar. Vamos colocar uma lona porque não temos para onde ir de jeito nenhum. Eu morava na casa da minha sogra no Dom Avelar. Há cerca de 10 anos morei com ela e não aguento mais. Tenho quatro filhos e é desesperador não ter para onde ir. A gente fica sendo humilhado. Depois que temos filhos e se junta com o marido tem que caçar um lugar para ficar, não pode ficar na casa de sogra e nem na casa de mãe, porque é uma humilhação que a gente passa”, relatou.
No último dia 07 de abril, os moradores de áreas invadidas de Petrolina ocuparam as casas do Residencial Novo Tempo V, por não concordarem com os critérios estabelecido para a escolha dos contemplados.
Em entrevista ao Nossa Voz no dia 09 de abril, o secretário de habitação, Thiago Rosendo esclareceu que “os critérios [para escolha dos beneficiados] são elencados pela Caixa Econômica Federal: Famílias com renda bruta de até R$ 1.800; pessoas com deficiência; em condições insalubres de moradia; pessoas com medidas protetivas; pessoas com casas condenadas pela Defesa Civil e também mães solteiras”.
Sobre os cadastros que não foram aprovados no Residencial Novo Tempo V, o secretário explicou que 70 estão em cadastro de reserva, 78 foram rejeitados e 20 reprovados. “Nós fazemos toda a documentação e enviamos para a Caixa. É ela que decide quem está apto a participar do sorteio. Então, estamos pedindo a essas pessoas que realizaram seus cadastros que entrem em contato com a Secretaria de Habitação, munido do CPF, para que possamos fazer a verificação do entrave”, explicou.