Petrolina vem se destacando no cenário nacional pelas ações em defesa dos animais. À frente da recém-criada Coordenação de Bem-Estar Animal do município, nomeada em dezembro do ano passado, está a Pâmela Durando — advogada, ativista da causa animal e agora gestora pública. Em entrevista concedida ao programa Nossa Voz, Dra. Pâmela falou sobre os desafios da função e os avanços conquistados em poucos meses de gestão.
Caso da cadela esfaqueada: “Foi uma afronta à sociedade”
Questionada sobre um caso recente que gerou grande comoção na cidade — o esfaqueamento de uma cadela — Dra. Pâmela relatou com clareza como a coordenação atuou:
“Essa situação dessa cadela que foi esfaqueada, por simplesmente estar incomodando com a sua presença, infelizmente é muito comum. Tivemos conhecimento na noite anterior e conseguimos, com apoio da Guarda Municipal, articular a detenção do indivíduo. Lembrando que não foi em flagrante, por isso ele vai responder solto. Ainda assim, conseguimos conduzi-lo à delegacia, o que já gera um efeito pedagógico na comunidade.”
Ela ressaltou também o papel pedagógico da atuação:
“Apesar das leis serem ainda muito lenientes, porque de fato você percebe que há uma indignação da população em ver que as pessoas são soltas, mesmo depois de uma audiência de custódia, eu fico muito feliz sempre que consigo fazer a condução. Só em pisar na delegacia e passar uma, duas, até três noites, se for o caso, eu já fico satisfeita com o efeito educativo que isso gera.”
Avanços e estrutura inédita
Ao comentar sobre os primeiros resultados da Coordenação, Pâmela celebrou o ineditismo da iniciativa:
“É importante dizer que, em todo nosso histórico, nunca tivemos um departamento voltado para isso. Assim como no Governo Federal foi criado um departamento de proteção animal dentro do Ministério do Meio Ambiente, aqui em Petrolina, temos agora um espaço estratégico dentro da Agência Municipal de Meio Ambiente. Vamos trabalhar de forma intersetorial com secretarias como a de Educação, Infraestrutura e Vigilância Sanitária.”
Ela também antecipou iniciativas como um projeto de educação sobre proteção animal nas escolas municipais, a regulamentação de animais de tração e, principalmente, a construção da primeira clínica veterinária pública do Vale.
“A expectativa é muito grande. Sabemos que os protetores estão ansiosos, mas estamos prontos para recebê-los com acolhimento e explicar o papel da coordenação. O nosso trabalho é estratégico. Não é só operacional. Precisamos de planejamento para gerar resultados concretos.”
Resposta às críticas: “Todos somos responsáveis”
Pâmela também respondeu a uma crítica trazida por um ouvinte sobre o acompanhamento dos animais castrados:
“Qualquer questão pode e deve ser levada à coordenação. Temos uma equipe humanizada, com escuta ativa e comprometida. Inclusive, existe um dia voltado exclusivamente à castração de animais de protetores, e queremos estender isso para toda a população. O serviço público precisa ser democratizado. Todos nós somos protetores. A Constituição diz que é dever do Estado e da coletividade — e todos nós somos o Estado.”
Em outro momento contundente, a coordenadora falou sobre a cultura do abandono:
“Os animais não brotam da terra. Eles são abandonados. Como lixo, que também não aparece sozinho. As pessoas precisam entender que a responsabilidade pelos seus animais é como a que temos por nossas crianças. Mesmo que o local não tenha estrutura médica ou educacional suficiente, a responsabilidade ainda é nossa.”
Manejo e políticas públicas: um esforço coletivo
Pâmela explicou com profundidade as complexidades do controle populacional animal:
“O manejo ético dos animais é de extrema complexidade. Depois de abandonado, o animal desenvolve comportamento selvagem, passa a viver em matilhas. A captura exige estratégia, técnica e, muitas vezes, até apoio do Exército com uso de zarabatanas. Não é simples. Mas estamos construindo esse caminho.”
Ela reforçou a importância de medidas conjuntas entre governo e sociedade:
“A população é parte disso. Hoje temos a previsão orçamentária no PPA para políticas públicas voltadas aos animais, pela primeira vez na história. Mas os recursos ainda não chegaram aos municípios. E, enquanto isso, precisamos que cada cidadão compreenda seu papel. A mudança começa em casa.”
O que vem por aí?
Por fim, a coordenadora anunciou novas articulações com o Ministério Público:
“Quarta-feira já tenho reunião com o promotor responsável pela Central de Inquéritos de Petrolina para tratar sobre os acordos de não persecução penal. Queremos que, ao menos, o agressor pague pelas despesas clínicas da vítima. Hoje essa indenização vai para um fundo do Judiciário, e nós, que atendemos, não temos acesso. Isso precisa mudar.”