Em Pernambuco, casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave aumentaram 13 vezes durante pandemia da Covid-19

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SOMERVILLE, MASSACHUSETTS - APRIL 28: Medical professionals pass each other a coronavirus test at a drive-thru testing site at Cambridge Health Alliance Somerville Hospital on April 28, 2020 in Somerville, Massachusetts. The city of Somerville is offering free testing to any resident who wants it, and requiring residents to wear masks in public spaces in order to combat the spread of coronavirus (COVID-19). Maddie Meyer/Getty Images/AFP

Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) levantados e analisados pela Fiocruz Pernambuco estão ajudando pesquisadores a entender como a Covid-19 tem se espalhado e agido no estado. A partir do cruzamento de informações disponibilizadas em plataformas públicas dos órgãos de saúde, estudo constatou volume de notificações 13 vezes maior durante a pandemia do novo coronavírus, quando feito o mesmo recorte com relação aos anos de 2015 a 2019 . 

As ocorrências de SRAG estão sendo notificadas desde 2009, por causa da pandemia da H1N1. Segundo levantamento da Fiocruz, de janeiro a junho deste ano, foram notificados 15.100 casos desta síndrome, associada à forma mais grave da Covid-19. No últimos cinco anos, no entanto, o número de casos chegava a 5.617. A média mensal, na época, era de 187 casos. Atualmente, é de 2.517. 

Apesar de não ser acarretada apenas pelo coronavírus, pesquisadores perceberam que, desde o aparecimento do vírus em Pernambuco, a Covid passou a ter relação direta com o aumento dos casos de SRAG. No cenário pandêmico, 66% das ocorrências tinham a doença como causa. Antes, a maior parte das confirmações não estavam especificadas (88,2%) e o restante tinha relação com outros tipos de vírus respiratórios (11,5%). A SRAG, amplamente associada ao tipo grave da Covid, é caracterizada pelo quadro de tosse, febre ou dor na garganta aliados ao desconforto respiratório ou falta de ar. 

Para além da relação direta com o aumento de casos, a sanitarista e doutora em Saúde Pública Amanda Cabral, que também é docente colaboradora da Fiocruz, pôde perceber, ao realizar o estudo, a mudança do comportamento da SRAG com relação ao perfil dos pacientes. “Foi possível perceber, por exemplo, que anteriormente mais de 70% dos casos eram em crianças, sobretudo menores de dois anos. Agora, houve um deslocamento dessa faixa para adultos e idosos. Essa mudança no perfil epidemiológico é, possivelmente, é um reflexo da circulação do corona”, explica. 

Outro ponto levantado foi a localização. “Todo o estado de Pernambuco sofreu com o aumento dessas notificações, mas o excesso delas foi muito maior em regiões mais afastadas da capital. Não quer dizer que o número de casos lá foi maior que nas demais, mas que, com relação ao mesmo período dos outros anos, as regiões tiveram o crescimento foi maior com relação aos dados delas mesmas em anos anteriores”, explica. Ainda segundo ela, este aumento também estaria relacionado com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) destas áreas. 

O material, desenvolvido com a colaboração da pós-doutoranda Lívia Maia e orientação do pesquisador da Fiocruz PE Wayner Vieira, foi publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva e tem como um dos intuitos ajudar no levantamento de dados para embasar a tomada de decisões quanto à condução da pandemia no estado. O estudo completo está disponível online. 

Folha PE