Estudantes de Medicina da FACAPE divulgam nota de repúdio contra direção e denunciam falta de estrutura no curso

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Alunos relatam problemas de gestão, ausência de práticas, falhas na comunicação e desrespeito às turmas. Direção ainda não se pronunciou oficialmente.

Os estudantes do curso de Medicina da Faculdade de Petrolina (FACAPE) divulgaram nesta semana uma nota de repúdio contra a direção da instituição. O documento, lido durante entrevista ao Nossa Voz, por representantes do Diretório Acadêmico, acusa a gestão da faculdade de “má administração, desorganização e decisões arbitrárias” que estariam comprometendo a formação acadêmica.

Na nota, os alunos afirmam:

“Nós, estudantes do curso de Medicina, não podemos mais silenciar diante do completo descaso e da irresponsabilidade da direção da FACAPE. O que vemos é uma instituição sendo conduzida de forma desastrosa, mergulhada em má gestão, desorganização e decisões arbitrárias que afetam diretamente nossa formação e nosso futuro. A direção falha repetidamente em garantir o mínimo de organização e planejamento. Não há clareza nas informações, não há transparência nas decisões e pior, não há qualquer respeito pelos estudantes que sustentam essa instituição, revelando um despreparo inaceitável para quem ocupa cargos de tamanha responsabilidade.”

Para detalhar as denúncias, os estudantes Maria Fernanda Santos Silva e André Pinheiro Dias, membros do diretório acadêmico, participaram da entrevista.

“Falta prática, falta campo e até insumos básicos”, diz estudante

Maria Fernanda relatou que os problemas começaram desde o início do curso, em 2023, e se agravaram com a exoneração recente da coordenadora e vice-coordenadora.

“A gente já tinha tido problemas antes com o coordenador que também foi exonerado pelos mesmos motivos. Os motivos são a falta de coordenação entre a coordenação de Medicina e a direção. É um diálogo que não acontece. E recentemente, dia 13 de agosto, ambas foram exoneradas. E um problema recorrente que a gente enfrenta desde o início do curso é a falta de prática, a falta de campo de prática. A gente tem tido problemas na disciplina de pediatria, neurologia, pneumologia, entre outras, onde não temos os campos necessários além das unidades básicas de saúde. Hoje existe uma Policlínica na FACAPE que custou R$ 100 mil, mas que conta apenas com seis salas para atender 300 alunos. Como é que a gente vai colocar 300 alunos em apenas seis salas de prática?”

Ela ainda denunciou que os estudantes tiveram que custear materiais para disciplinas como cirurgia e que o hospital simulado, anunciado pela instituição, estaria abandonado.

“Nós tivemos que arcar com nossos próprios materiais em cirurgia, materiais básicos que a faculdade deveria oferecer. O hospital simulado, que a FACAPE divulga como já em funcionamento, simplesmente não existe na prática. O espaço está vazio, com bonecos que custaram milhões guardados em salas empoeiradas. Esse hospital deveria ter sido entregue em 2024 e já está com um ano de atraso, sem previsão de abertura.”

André, estudante do segundo período, destacou que os problemas se arrastam desde a primeira turma do curso.

“Eu sou da turma 5, estou no segundo período, mas a faculdade já tem seis turmas. Esse é um problema crônico, que vem desde a turma 1. Desde o começo os alunos mandam ofícios e tentam diálogo, mas a direção sempre age de forma resolutiva momentânea e nunca concretiza nada. Um exemplo foi a criação do cargo de vice-coordenador após reunião em maio. Essa medida foi pedida pelos estudantes para melhorar a comunicação, mas na semana passada fomos surpreendidos com a exoneração da coordenadora e vice, sem explicações. Além disso, a cerimônia do jaleco da turma 6 foi cancelada de última hora, depois que familiares já tinham gasto com passagens e hospedagem. Só no fim da noite a direção voltou atrás, mas as famílias já tinham arcado com prejuízos.”

O estudante ressaltou que as decisões arbitrárias comprometem a autonomia da coordenação de Medicina:

“É obrigatório que o curso de Medicina seja regido por um coordenador médico, por motivos técnicos e acadêmicos. Mas a direção constantemente revoga decisões da coordenação sem dar explicações, o que compromete a organização do curso e prejudica os alunos diretamente.”

Atrasos no calendário e contratação de professores

Os estudantes também denunciaram atrasos no calendário e na contratação de docentes.

Maria Fernanda explicou:

“Hoje, por exemplo, era para ter iniciado a disciplina de cirurgia 2 no sexto período, mas a matéria só vai começar em 18 de agosto porque o convênio com o hospital atrasou. A coordenação tinha afirmado que iria repor, mas com a exoneração a gente não tem garantia de nada. Outro problema recorrente é a contratação dos professores. Muitas vezes isso acontece em cima da hora, uma semana antes de iniciar as aulas, sem tempo para preparar plano de ensino ou solicitar materiais. Isso gera uma aula improvisada e sem insumos adequados.”

Mensalidades altas e falta de retorno

Os alunos ainda destacaram os custos do curso, considerado elevado diante da falta de estrutura.

André questionou:

“A nossa faculdade custa R$ 8.545, mas com desconto por pagamento em dia o valor cai para R$ 7.499. Mesmo assim, é um valor muito alto. Se houve a proposta de abrir um curso de Medicina municipal, deveria existir um aparato maior. A gente paga caro e não tem retorno. Isso causa frustração e indignação.”

Resposta da direção

Até o fechamento desta reportagem, os representantes do Diretório Acadêmico afirmaram que a direção da FACAPE não se reuniu com os estudantes nem respondeu diretamente à nota de repúdio.

Segundo os alunos, a única manifestação pública da instituição ocorreu por meio de um comunicado enviado a outro programa, sem responder às denúncias específicas dos discentes.

“Até agora, dia 18 de agosto, ninguém veio falar com a gente. A direção não se posicionou oficialmente sobre a nota. O que houve foi apenas uma nota solta em outro espaço, sem dialogar com o corpo discente e sem responder às nossas reivindicações”, disse André.