Em meio à expectativa mundial para a chegada de uma vacina depois de quase um ano de pandemia, a ciência segue em busca de informações que ajudem a entender o comportamento do novo coronavírus e quais as estratégias mais eficazes para combater a infecção que ele provoca, a Covid-19. Dois estudos realizados no Nordeste com instituições e pesquisadores de outros países apontam para esta direção ao analisarem possíveis respostas imunológicas contra a doença.
Um desses estudos foi fruto de uma parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Instituto Materno Infantil Burlo Garofolo, na Itália. A partir de simulações feitas no computador, a pesquisa identificou um conjunto de moléculas presentes no corpo humano que apresentaram uma resposta imune ao Sars-Cov-2, nome científico do novo coronavírus. Assim, a descoberta pode indicar quais pessoas são mais propensas a desenvolver os sintomas da Covid-19 e quais pacientes têm melhores condições de se recuperarem, independentemente dos fatores de risco já conhecidos, como idade avançada e doenças preexistentes.
“O que fizemos foi, primeiro, identificar formas alternativas de um conjunto de genes chamado HLA na população brasileira. Existem centenas de formas diferentes, que variam em cada país. Catalogamos as formas mais recorrentes na nossa população e simulamos a interação de um formato específico, que chamamos de alelo, com fragmentos de uma das proteínas do Sars-Cov-2”, explica o biólogo e doutor em Genética Ronald Moura, idealizador da pesquisa. “Isso porque, no nosso corpo, essas moléculas HLA servem para reconhecer um patógeno e ativar o sistema imune”.
De acordo com o pesquisador, um exame molecular poderia indicar se o paciente possui ou não o perfil imunológico com esse gene que seja capaz de reconhecer o Sars-Cov-2. “É semelhante ao RT-PCR em tempo real, mas, em vez de detectar se a pessoa tem o vírus, ele mostra se tem essa forma específica do HLA, que é o alelo”, afirma.
Covid e dengue
O segundo estudo é coordenado pelo coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, o neurocientista Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, nos Estados Unidos. Enquanto analisavam dados epidemiológicos sobre a expansão do novo coronavírus em 15 países da América Latina, Ásia e África, ele e uma equipe formada por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) descobriram uma correlação entre os casos de dengue e Covid-19.
Segundo a pesquisa, que tomou como base a disseminação geográfica das doenças desde o fim do ano passado, as populações dos locais mais afetados pela dengue tiveram menos infecções e mortes pelo novo coronavírus. Dessa forma, a descoberta sugere que a infecção por dengue ou uma vacina contra a doença poderia proporcionar alguma resposta defensiva contra a Covid-19, embora os vírus que provocam as doenças sejam de famílias diferentes. De acordo com a assessoria de imprensa do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, o estudo, que se encontra em fase final, será detalhado até a próxima semana. (Fonte: Folha PE)