Exoneração de Danilo Cabral da Sudene expõe disputa política por trecho cearense da Transnordestina

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Ex-superintendente atribui saída à pressão do governo do Ceará e diz que vai continuar defendendo os interesses de Pernambuco e do Nordeste, mesmo fora do cargo.

O ex-deputado federal Danilo Cabral foi exonerado do cargo de superintendente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), conforme publicação desta terça-feira (5). A saída, já ventilada nos bastidores políticos, ocorreu após pressão do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), com foco na condução dos investimentos da Ferrovia Transnordestina.

Em entrevista ao programa Nossa Voz nesta quarta-feira (6), Danilo Cabral comentou os bastidores da exoneração e defendeu sua gestão à frente da autarquia. Segundo ele, sua saída é resultado de uma articulação política cearense que busca favorecer exclusivamente o trecho da ferrovia que passa pelo estado vizinho.

“A forma como foi publicada, inclusive pela imprensa, é que uma das razões para a substituição foi uma provocação feita pelo governador Elmano, atendendo a uma demanda da empresa concessionária, que alegava descuido da Sudene na liberação de recursos para a obra no Ceará. O que é absolutamente improcedente”, afirmou.

Cabral destacou que, sob sua liderança, a Sudene foi essencial para a retomada das obras da Transnordestina. Segundo ele, a autarquia liberou R$ 800 milhões em 2023 e autorizou, em dezembro, mais R$ 3,6 bilhões para a continuidade dos trabalhos. Em 2025, mais R$ 1 bilhão foi repassado para o projeto.

“A Transnordestina não é só para o Ceará. É para o Ceará, para o Piauí, para Pernambuco e para todo o Nordeste. Ela é uma obra integradora que impacta quase mil municípios”, afirmou.

Tensão entre estados e pressão política

Durante a entrevista, o ex-superintendente revelou que o foco da sua gestão também envolveu articulações para garantir avanços do trecho pernambucano da ferrovia, o que teria gerado “inquietações”.

“Nós passamos a integrar os atores, dialogando com o Ministério dos Transportes, promovendo seminários em Salgueiro, Petrolina, Araripina, Caruaru, para mobilizar Pernambuco. Se o custo político de sair do cargo for por defender os interesses do meu estado, eu pagarei todas as vezes”, disse.

Ele também anunciou que a Sudene, sob sua liderança, firmou parceria com a Universidade Federal de Pernambuco para reativar o trecho entre Salgueiro e Petrolina, além de iniciativas como a reativação do trem de passageiros entre Recife e Caruaru.

Relação entre PSB e PT e futuro político

Ao ser questionado se a exoneração causaria desgaste na relação entre PT e PSB, Danilo Cabral não confirmou, mas reconheceu que a condução dos recursos “está desequilibrada”. Ele reiterou, no entanto, que continuará atuando politicamente, mesmo fora de cargos públicos.

“A política se faz de várias formas. Eu não preciso de cargo para defender Pernambuco. No dia 13 estarei em Petrolina, como cidadão, no seminário da Transnordestina, defendendo a obra e os interesses do Nordeste”, afirmou.

Cabral também não descartou disputar um cargo eletivo no futuro e garantiu que estará engajado em dois projetos políticos: a eleição de João Campos (PSB) ao governo de Pernambuco e a reeleição do presidente Lula.

Novo nome à vista e repercussão

A exoneração de Danilo Cabral foi lamentada por lideranças do PT em Pernambuco. O senador Humberto Costa, que articulou a nomeação de Danilo à Sudene em 2023, afirmou em nota que ele “reestruturou a instituição e devolveu o protagonismo da autarquia em defesa do povo nordestino”.

O nome mais cotado para assumir a superintendência da Sudene é o de Francisco Ferreira, segundo suplente da senadora Tereza Leitão (PT-PE), numa tentativa de manter a liderança da autarquia com um pernambucano.