Governo dobra investimento em vacinas brasileiras contra doenças como dengue e malária

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Após uma pandemia que expôs a dependência internacional do Brasil para obter insumos de saúde, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva decidiu acelerar a produção de vacinas nacionais.

Desde janeiro, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), principal órgão de fomento à ciência no país, investiu R$ 4,4 milhões no desenvolvimento de imunizantes contra maláriachikungunyafebre do mayaro dengue. O valor é o dobro do desembolsado durante todo o ano passado.

Os recursos dispensados até agora foram voltados para três projetos específicos desenvolvidos por universidades federais, e o planejado é investir, até dezembro, R$ 10,5 milhões, cifra que supera os valores dos últimos anos.

Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, foram R$ 9,4 milhões liberados para o desenvolvimento de vacinas. Em 2021, contudo, não houve novos recursos para a área. Já em 2022, apesar de a financiadora ter assinado contratos que somavam R$ 9,2 milhões para pesquisas de imunizantes, somente R$ 2,2 milhões foram efetivamente liberados.

A maior parte dos recursos tem como fonte o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDTC), cujo orçamento neste ano é de R$ 5 bilhões. Em 2022, um texto elaborado pelo governo de Jair Bolsonaro abria caminho para travar as verbas do fundo, mas a proposta foi rejeitada pelo Congresso, que proibiu contingenciamento de recursos para o fomento da ciência.

Segundo o presidente da Finep, Celso Pansera, a meta do governo é construir até o fim de 2026 uma infraestrutura capaz de atender 70% da demanda de insumos do Sistema Único de Saúde (SUS) — o que inclui, além de vacinas, medicamentos e outros materiais. Para isso, o órgão financia a construção de um Centro Nacional de Vacinas, em Belo Horizonte (MG), para apoio a projetos de pesquisa com foco em imunizantes com tecnologia 100% brasileira.

— É um objetivo bastante ambicioso e vamos trabalhar muito para ajudar a cumprir essa meta. Será uma das nossas prioridades. Isso significa tanto aportar na infraestrutura das universidades e centros de pesquisa, que fazem a parte mais básica, quanto nas empresas que já possuem produtos maduros ou em processo de investimento para produção — disse ao Globo Pansera, que foi ministro de Ciência e Tecnologia no governo de Dilma Rousseff.

Ainda não existe nenhuma vacina desenvolvida 100% no Brasil. A mais próxima de ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a SpiN-TEC, imunizante contra a Covid-19 desenvolvida pelo Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde novembro do ano passado, ela é testada em humanos, em um processo chamado de teste clínico.

Das três produções de imunizantes financiadas pela Finep neste ano, duas são tocadas pelo mesmo time de pesquisadores da SpiN-TEC. Uma, já em estado avançado, previne contra a malária causada pelo parasita Plasmodium vivax, a mais comum no país. A outra consiste no desenvolvimento de ácidos nucleicos contra chikungunya, febre de mayaro e dengue.

O terceiro estudo, de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também tem como foco a dengue, e irá receber R$ 2,3 milhões para criar uma vacina polivalente contra os quatro sorotipos do vírus.

Fonte: O Globo