O número de vítimas de acidentes de trânsito em Pernambuco registrou crescimento em 2024, e Petrolina aparece como destaque no ranking estadual. Segundo o boletim de morbidade e mortalidade da Secretaria Estadual de Saúde, o Hospital Universitário da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) registrou o maior número de atendimentos a vítimas de acidentes de trânsito no estado.
Foram mais de 10 mil pessoas atendidas apenas na unidade, o que representa quase um quarto de todos os casos registrados nas 18 unidades de sentinela de Pernambuco. A maioria dos acidentes envolve motociclistas jovens do sexo masculino, um reflexo da combinação entre imprudência no trânsito, fragilidade na fiscalização e sobrecarga do sistema público de saúde.
Para entender melhor o cenário, nossa equipe conversou com Daniele Figueiredo, chefe da unidade de vigilância e saúde do Hospital Universitário de Petrolina.
“ A gente acompanha esse programa há cerca de 10 anos, e dentro daquilo que levantamos como hipótese, percebemos que Petrolina se desenvolveu muito, e a população praticamente dobrou nesse período. Com isso, também aumentou o número de veículos. Não posso afirmar que esse seja o único motivo, mas esses fatores contribuem bastante para que o número de acidentes seja tão elevado”, explicou Daniele.
Segundo ela, o crescimento da cidade não foi acompanhado de forma proporcional pela fiscalização de trânsito, equipamentos de saúde e educação no trânsito. “Se a gente não acompanha essas mudanças na mesma proporção, inevitavelmente surgem impactos negativos. Hoje, nosso Hospital Universitário está superlotado, e quando vejo os relatórios das outras unidades do estado, mesmo acompanhando todos os dias, é surreal perceber que Petrolina continua em primeiro lugar nesse quesito. Estamos sempre buscando maneiras de minimizar esses impactos”, disse.
O boletim aponta que 73% dos acidentes envolvem motociclistas. Segundo Daniele, fatores como falta de habilitação, consumo de álcool, excesso de velocidade e uso inadequado do capacete são comuns nos registros. “A grande maioria das vítimas que atendemos são homens entre 20 e 29 anos, que utilizam a motocicleta para ir e voltar do trabalho, mas também nos finais de semana. Esses acidentes ocorrem tanto na zona urbana quanto na zona rural, sendo mais frequentes em localidades como Maria Teresa, N6 e N4”, afirmou.
Os acidentes resultam principalmente em lesões nos membros superiores e inferiores, seguidos de traumas na cabeça. “Temos fraturas nos braços e nas pernas, e muitos casos envolvendo o crânio. Nosso hospital é referência para trauma-ortopedia e neurocirurgia, mas enfrentamos uma sobrecarga intensa. Chegamos a registrar quase 200% de taxa de ocupação, com mais de 100 pacientes nos corredores, o que impacta diretamente na qualidade do atendimento e na segurança do paciente”, detalhou.
Sobre o atendimento de neurocirurgia, Daniele esclareceu: “Recebemos neurocirurgiões e anestesistas recentemente, o que aumentou significativamente a nossa capacidade cirúrgica. Ainda assim, a superlotação é preocupante. Atendemos pacientes leves, moderados e graves, o que exige cuidados diferentes. O tempo médio de internamento varia de 2 horas, para casos leves, até 30 a 60 dias em UTI, seguidos de permanência em enfermaria e acompanhamento domiciliar intensivo”, explicou.
Daniele reforçou ainda a necessidade de ações integradas entre os órgãos de trânsito e saúde: “O hospital é apenas o desfecho do acidente. Precisamos que a fiscalização, a educação no trânsito e os órgãos responsáveis atuem de forma mais efetiva para reduzir esses números. Estamos emitindo documentos e encaminhando informações ao Ministério Público, na tentativa de chamar atenção para essa situação crítica”, concluiu.



