A modalidade de ensino a distância (EaD) avança de forma acelerada no país. A constatação é do Censo da Educação Superior de 2021, cujos dados foram divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo o levantamento, em 10 anos houve o crescimento de 474% no oferecimento de cursos por meio desse formato de aprendizado. Grande parte dos estudantes que optam pelo EaD está na rede privada, na qual, entre 2018 e 2021, houve um salto de 24,3% para 41,4%.
Seis de cada 10 ingressantes do ensino superior em 2021 entraram em cursos a distância. Já o número de calouros em graduações presenciais caiu 28% ante 2019, último ano pré-pandemia. De um lado, o ensino a distância permite expansão mais rápida e barata, além de ser mais viável para alunos que trabalham. Mas, por outro, especialistas apontam dificuldades de monitoramento e perda de qualidade na formação inicial dos profissionais, sobretudo em áreas estratégicas, como a docência.
Vandir Chalegra Cassiano, diretor da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) do MEC, explicou que a pasta aumentou o acompanhamento dos cursos EaD exatamente para fazer com que o nível do conteúdo oferecido ao aluno seja compatível com o que propõe o ministério.”Estamos preocupados por causa das universidades que estão oferecendo cursos EaD de valores muito baixos. Temos instituições que anunciam a R$ 59,90, uma mensalidade muito pequena. Queremos saber se tem a qualidade adequada”, explicou.
Do total de 3.452.756 estudantes matriculados nas universidades particulares, 70,5% estão em EaD e em polos espalhados por 2.968 municípios. “É uma tendência inexorável, que se consolidou como modalidade de ensino e que está prevalecendo na expansão da educação superior no Brasil”, observou o presidente do Inep, Carlos Eduardo Moreno Sampaio.
Desde o ano passado, o número de instituições privadas de ensino superior no país é maior que o de públicas — 87,8% contra 12,2%. A rede particular é considerada a responsável pelo aumento da quantidade de cursos EaD. De 2019 para 2020, o crescimento foi de 25% — passou de 6.116 para 7.620.Outro ponto de atenção é da lacuna que ainda existe entre os alunos que são matriculados e aqueles que concluem o curso. Em 2021, foram 3.716.370 matrículas em instituições privadas, sendo as cadeiras de direito e psicologia as mais procuradas. No entanto, dessas matrículas, apenas 485.141 pessoas chegaram ao bacharelado.
“Isso é tão importante para lançar luz sobre as políticas em andamento e para outras a serem criadas a partir daquilo que se revela quando se faz esse acompanhamento. (Isso permite saber) o que está acontecendo, que movimentos estão havendo ao longo dos anos com a educação superior em vários níveis”, afirmou o secretário da Educação Básica, Mário Luiz Rabelo.
Inclinação
A redução de ingresso em cursos presenciais e o crescimento do EaD são tendências desde 2014, acentuadas com a pandemia da covid-19. Na crise sanitária, o ingresso na modalidade a distância cresceu 55,6%.
Para se ter uma ideia, o cenário de 2011 era bem diferente. Naquele ano, oito de cada 10 estudantes que ingressavam no ensino superior eram na modalidade presencial. Apenas 431,6 mil calouros se matriculavam em uma graduação a distância há 10 anos. Em 2021, esse mesmo número saltou para 2,48 milhões.
Doutora em engenharia e gestão do conhecimento pela Universidade de Santa Catarina (UFSC) e consultora em EdTech, Carolina Schmitt Nunes destaca que a soma de uma série de fatores explica o avanço do ensino a distância. Na avaliação dela, a pandemia ganha destaque, pois acelerou esse processo, que já acontecia, ao proporcionar uma “antecipação tecnológica”, que modificou a relação das pessoas com a internet
Ela acrescenta que, hoje, o público universitário é formado em maioria por pessoas que trabalham e têm família — e, com isso, há uma série de obrigações. Logo, a possibilidade de estudar de casa traz comodidade. O preço mais acessível também aparece entre as razões de um estudante optar pelo EaD. Porém, Carolina chama a atenção para a qualidade do que é oferecido.
“Podemos ter uma série de profissionais com um diploma, mas que, na prática, não conseguem desempenhar bem suas funções ou mesmo não entram no mercado de trabalho naquele campo porque não têm a qualificação necessária”, alerta. (Com Agência Estado)