“Infelizmente, agressores não carregam uma placa avisando quem são”, destaca advogado sobre o caso Ingrid Vitória

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Nesta segunda-feira (31), em entrevista ao programa “Nossa Voz”, o advogado criminalista Dr. Ailton Abel comentou o caso de Ingrid, jovem assassinada em Santa Maria da Boa Vista. Durante a entrevista, ele esclareceu pontos cruciais sobre a investigação e as consequências jurídicas do crime.

O caso teve um desfecho trágico: a vítima foi assassinada, e o suspeito morreu em confronto com a polícia. Questionado sobre os próximos passos da investigação, Dr. Abel explicou:

“Como o sequestrador faleceu, a polícia agora deve aprofundar a investigação para entender as motivações e se havia outros envolvidos. Crimes dessa natureza costumam ser precedidos por um longo período de perseguição, conhecido como stalking. A investigação irá retroceder para verificar se havia ameaças anteriores, mensagens suspeitas ou outros indícios que poderiam ter alertado sobre o risco que Ingrid corria.”

O advogado também detalhou as principais provas que devem ser coletadas para a conclusão do inquérito.

“A polícia deve analisar o celular da vítima e do agressor, identificar comunicações, checar históricos de mensagens e verificar se havia um padrão de ameaças ou qualquer outro tipo de indício. Além disso, serão ouvidas testemunhas, analisadas câmeras de segurança e coletadas informações que possam indicar se o crime teve motivação passional, vingança ou outra razão.”

Do ponto de vista jurídico, Dr. Abel explicou quais crimes foram configurados no caso.

“Neste caso concreto, temos vários crimes em evidência: stalking, sequestro, cárcere privado, violência sexual (estupro de vulnerável), homicídio e ocultação de cadáver. Se o suspeito estivesse vivo, ele poderia receber uma pena que ultrapassaria os 40 anos de reclusão. É um crime de extrema gravidade, que demanda uma resposta rápida e eficiente das autoridades.”

Sobre a continuidade da investigação, mesmo com a morte do principal suspeito, Dr. Abel esclareceu:

“Toda investigação criminal precisa ter um desfecho formal. Agora, a polícia precisa concluir o inquérito para determinar se havia mais envolvidos, qual foi a verdadeira motivação do crime e quais falhas no sistema permitiram que isso acontecesse. É fundamental que essa etapa seja concluída para trazer respostas à família e evitar casos semelhantes no futuro.”

Questionado sobre a possibilidade de responsabilização do Estado, Dr. Abel foi categórico:

“Inicialmente, não há indícios de omissão do Estado. Pelo contrário, houve um grande esforço por parte das forças de segurança, que atuaram de maneira incansável. A polícia fez um trabalho rápido e intenso, chegando ao suspeito em pouco tempo. Infelizmente, o desfecho não foi o esperado, mas isso não caracteriza negligência do poder público.”

A entrevista também abordou a legislação brasileira sobre crimes violentos e a percepção de impunidade em casos semelhantes. Segundo Dr. Abel:

“A legislação brasileira já prevê penas rigorosas para crimes como sequestro seguido de morte e feminicídio. O problema, na maioria das vezes, não está na lei, mas na sua aplicação. Recentemente, a pena para feminicídio foi aumentada para até 40 anos, mas isso não tem impedido o crescimento desses crimes. Precisamos de um sistema que aplique a lei com mais eficácia e garanta que agressores não tenham a oportunidade de reincidir.”

Ele ainda alertou para a necessidade de atenção da sociedade quanto a pessoas potencialmente perigosas.

“Muitos desses crimes são cometidos por pessoas próximas das vítimas, que ganham a confiança da família antes de agir. Os pais precisam estar atentos aos sinais de perigo e ao comportamento de pessoas próximas de seus filhos. Infelizmente, agressores não carregam uma placa avisando quem são.”

O caso de Ingrid, assim como outros crimes violentos, reforça a necessidade de mais atenção e prevenção. A investigação segue em andamento, e a população aguarda por respostas concretas das autoridades.