Infestação de mosca-da-fruta ameaça exportações e empregos no Vale do São Francisco

0

Uma praga quarentenária e voraz ameaça a fruticultura do Vale do São Francisco, colocando em risco milhões em exportações e milhares de empregos. A mosca-da-fruta (Ceratitis capitata), pequena em tamanho, mas gigante em impacto, exige atenção e controle rigoroso para que o Vale continue despontando no mercado global de frutas. Em entrevista ao Nossa Voz desta sexta-feira (25), Tassio Lustosa, gerente-executivo da ValeExport, trouxe um alerta importante.

“Estamos no limite, e uma falha no controle desta praga pode comprometer o um dos principais destino das mangas da região — os Estados Unidos — além de ameaçar todo o setor.”

A mosca-da-fruta tem encontrado um ambiente favorável para proliferação no Vale do São Francisco, um oásis agrícola com 130 mil hectares de área cultivada com frutas diversas, incluindo 55 mil hectares de manga. De acordo com Tassio, embora apenas 9 mil hectares de manga sejam destinados ao mercado norte-americano, a infestação afeta indiretamente toda a produção. Ele explica que, mesmo com as barreiras de controle, o governo americano quase bloqueou o início das exportações neste ano, colocando em risco um dos principais mercados para a manga brasileira.

“A nossa janela de exportação começa no final de julho e se estende até dezembro, mas devido à pressão populacional de moscas na região, quase não conseguimos iniciar o escoamento da safra para os Estados Unidos”, ressaltou Tassio. Esse mercado representa cerca de 50 mil toneladas anuais de exportação. Sem ele, o excedente de produção recairia sobre o mercado interno, provocando queda nos preços e aumento do desemprego, já que cada hectare de manga gera, em média, dois empregos diretos.

A ValeExport, com apoio da Embrapa e do Sebrae, tem trabalhado em diversas estratégias para mitigar o impacto da praga. Tassio destacou o tratamento quarentenário, uma tecnologia importada há mais de 30 anos dos Estados Unidos, que consiste em imergir as frutas em água quente a 47°C para eliminar possíveis larvas. Este método é crucial, mas precisa ser acompanhado pelo controle populacional no campo.

“Temos disponíveis o controle cultural, que resolve cerca de 70% do problema, o controle biológico com a biofábrica de mosca estéril e o controle químico, além de armadilhas espalhadas nos pomares. Porém, é essencial que o produtor mantenha a limpeza dos pomares e recolha diariamente as frutas caídas, pois essas se tornam focos de reprodução da praga”, explicou.

O Sebrae, além de fomentar o monitoramento nas propriedades, também oferece suporte financeiro para os pequenos produtores, cobrindo 100% dos custos de controle e monitoramento em algumas áreas. Já a Embrapa, representada pela Dra. Beatriz, continua desenvolvendo e promovendo novas tecnologias e metodologias de combate à praga, disseminando informações fundamentais para os produtores da região.

A infestação da mosca-da-fruta não afeta apenas a manga; frutas como uva, goiaba e acerola também podem ser atingidas, ampliando o impacto da praga. “Imagine que a logística que atende a manga também apoia outras culturas. Se o volume de exportação cai, todo o sistema de transporte e distribuição é afetado, prejudicando a cadeia produtiva como um todo”, alertou Tassio.

Além disso, o aumento da população de moscas está diretamente ligado ao preço da fruta: quando o preço está alto, o produtor aproveita ao máximo o campo, colhendo tudo o que pode. No entanto, em períodos de preços baixos, muitos produtores abandonam áreas e deixam frutas no solo, o que contribui para a proliferação da praga. Tassio destacou que esse comportamento, embora compreensível, pode trazer prejuízos a longo prazo. “Se o preço está ruim hoje com o mercado americano aberto, imagine como seria com o mercado fechado. É um desafio de conscientização para todos.”

Chamado à ação e participação política

No final da entrevista, Tassio Lustosa fez um apelo aos representantes políticos da região. Ele enfatizou que o combate à mosca-da-fruta exige apoio das prefeituras de Petrolina, Juazeiro e outras cidades do polo, com busca ativa por soluções e engajamento. Segundo ele, a situação demanda não apenas a ação dos produtores, mas o apoio do poder público para evitar o impacto negativo na economia e no mercado de trabalho da região.

A ValeExport reforça a importância de um combate integrado e constante contra a mosca-da-fruta, conscientizando todos os produtores para que se engajem nas práticas recomendadas. Para os pequenos produtores, a Embrapa e o Sebrae oferecem suporte e incentivo ao monitoramento, mas a responsabilidade do controle e da limpeza dos pomares é de todos. A praga, quando não controlada, compromete a competitividade do Vale do São Francisco no mercado global e ameaça milhares de empregos diretos e indiretos na fruticultura.