Os médicos plantonistas do Hospital Municipal de Casa Nova (HMCN), na Bahia, divulgaram uma carta aberta para informar a população sobre as condições precárias enfrentadas na unidade e para alertar sobre uma possível paralisação nos atendimentos. Segundo os profissionais, desde que a gestão do hospital foi assumida pelo Instituto de Gestão Integrada (IGI), ocorreram retrocessos que afetam tanto os trabalhadores quanto os pacientes.
Problemas na Gestão e Direitos Comprometidos
A carta aponta que a terceirização da administração do hospital, implementada pela Prefeitura de Casa Nova em 2022, resultou em perdas significativas para os profissionais e para a qualidade do atendimento. Segundo os médicos, essa mudança trouxe a “pejotização” dos plantonistas, que agora trabalham como pessoas jurídicas, o que implicou na perda de direitos trabalhistas e de segurança no recebimento dos salários. A equipe de enfermagem também sofreu com cortes no quadro, gerando sobrecarga de trabalho e precarização de serviços complementares.
Os médicos denunciam atrasos frequentes nos pagamentos, situação que, de acordo com o IGI, deve-se à falta de repasses da Prefeitura. Como resultado, os profissionais acabam arcando com multas e juros por não conseguirem honrar suas responsabilidades financeiras. Eles defendem o direito a uma remuneração justa e pontual, essencial para manter a dedicação ao atendimento da comunidade.
Impactos para a População: Falta de Insumos e Exames Limitados
Além dos prejuízos aos profissionais, os médicos destacam problemas que afetam diretamente os pacientes de Casa Nova. Entre as principais dificuldades enfrentadas estão:
- Classificação de Risco Inadequada: Conforme a resolução 2077/14 do Conselho Federal de Medicina (CFM), o hospital deveria adotar um sistema de triagem eficiente, como o Protocolo de Manchester. No entanto, os médicos relatam que a classificação de risco não segue os critérios, o que leva a esperas desnecessárias, mesmo em casos graves.
- Sobrecarga no Atendimento: A quantidade de atendimentos diários ultrapassa o limite recomendado pela CFM, que é de três pacientes por hora para cada médico. A situação exige que mais profissionais sejam contratados para assegurar um atendimento adequado.
- Escassez de Medicamentos e Insumos: Faltam remédios essenciais, como metoclopramida (usada para náuseas), e exames laboratoriais são limitados, com disponibilidade apenas de hemogramas e exames de urina. Outros exames fundamentais, como função renal e ionograma, estão frequentemente indisponíveis, forçando pacientes a arcar com esses custos.
- Insegurança para Profissionais e Pacientes: Relatos de ameaças e violência são frequentes, e o hospital não possui um sistema funcional de segurança, o que coloca em risco tanto os profissionais quanto os usuários.
Buscas por Soluções e Possível Paralisação
Desde novembro de 2023, os médicos tentam dialogar com a Secretaria de Saúde e buscar melhorias nas condições de trabalho e de atendimento, mas até agora, mudanças significativas não foram implementadas. De acordo com o Código de Ética Médica, é direito dos profissionais se recusarem a exercer a profissão em condições indignas e denunciar essas falhas aos conselhos de medicina e aos órgãos competentes.
Em um último apelo, os médicos informaram que, caso o IGI não apresente soluções viáveis para os problemas relatados, o atendimento médico será paralisado. Eles garantem que, em caso de paralisação, haverá médicos no hospital para a classificação de risco, evitando desassistência total aos pacientes.
Compromisso com a População
Apesar das dificuldades, os médicos plantonistas do HMCN reforçam seu compromisso com a saúde dos cidadãos de Casa Nova e reiteram que a intenção é buscar melhorias que garantam um atendimento digno e de qualidade para todos.