Motoristas rodoviários de Petrolina temem demissões com saída da Atlântico e cobram transparência sobre repasse de verbas trabalhistas

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Dirigentes do Sindicato dos Motoristas Rodoviários de Petrolina confirmaram, em entrevista, que a empresa Atlântico deixará de operar o transporte público na cidade no prazo de 18 meses. A saída está ligada a um novo processo licitatório que segundo os motoristas foi anunciado em reunião com a Prefeitura e pela Autarquia Municipal de Mobilidade (Ammpla).

O presidente do sindicato, Elísio Rodrigues, afirmou que a entidade foi informada em reunião recente com a Ammpla sobre o processo.

“Participamos de uma reunião com a Ammpla semana retrasada. E o que eles passaram para gente é que vai haver uma nova licitação na cidade e a empresa Atlântico vai ficar 18 meses em Petrolina. Então, vai embora de fato aqui de Petrolina nos próximos 18 meses. E nesse novo processo que vai ser implantado, a licitação, ela não poderá participar também. Já existe esse acordo de que a gente não poderá. A gente tem em mãos esse acordo, assinado pela Prefeitura e pela Ammpla. O que a gente fica preocupado mais uma vez é com os postos de trabalho dos trabalhadores, porque com as demissões, com reaproveitamento da mão de obra dos que estão na ativa, a gente sabe da luta que já tivemos lá atrás, no tempo em que a Atlântico entrou. Tivemos briga, tivemos que ir para o Ministério Público para reaproveitar os trabalhadores da ativa, e aí a gente já está com essa grande preocupação de novo com a saída da empresa.”

Segundo o sindicato, cerca de 180 trabalhadores podem ser afetados diretamente com a saída da Atlântico. A redução gradual da frota já vinha gerando desligamentos, conforme relatado pelos representantes da categoria.

“A frota está reduzida. Iniciou com mais de 80 ônibus, depois rodava 70 e ficava 10% na garagem. Cada um vinha reduzindo. Hoje temos poucos ônibus. A licitação era para mais de 70, mas são só demissões. A empresa vai embora e o transporte nunca fica efetivo”, disse Elísio.

O sindicalista também defendeu que o novo processo licitatório contemple mais de uma empresa, a exemplo do que já ocorreu anteriormente.

“A única empresa até hoje que a gente teve que ficou bastantes anos em Petrolina foi a Joalina. Na nova licitação, que fossem duas empresas, como era antes, Viva e Joalina. Porque se uma estiver fazendo mau trabalho, a outra pode estar fazendo bom trabalho, e pode romper o contrato feito pela prefeitura com a empresa, e a outra permanecer. Tem bairros que passam até duas horas com apenas um ônibus. Com a redução, tende a piorar.”

Outro ponto de crítica dos trabalhadores é o acúmulo de funções e a responsabilização dos motoristas por falhas no sistema.

“A gente vive recebendo acúmulo de função. A insatisfação é essa, porque só quem paga é o motorista. Tudo de ruim que vem no transporte coletivo, o motorista é o culpado. Esse ano a gente está mais alinhado, entendeu? Com Edilsão, eles já chamaram a gente várias vezes, o Ítalo também, para participar até do processo licitatório. Eles disseram que queriam que a gente participasse. Na última licitação, a gente foi escanteado, jogaram os trabalhadores de lado. Se não fosse a briga no Ministério Público, talvez não teríamos conseguido colocar ninguém da ativa para trabalhar”, completou Elísio.

O vice-presidente do sindicato, Edinaldo Trovão, também destacou que transições anteriores entre empresas do setor deixaram pendências graves com os trabalhadores, especialmente quanto ao pagamento de verbas rescisórias.

“Os processos foram todos sentenciados já pela Justiça. Infelizmente, a Viva Petrolina faliu e não tinha nenhum patrimônio para pagar. Já da parte da Joalina, tinha um patrimônio da garagem que foi vendido. E hoje existe dinheiro em conta, só que os trabalhadores até o momento não receberam nenhum centavo. Esse dinheiro está na conta da Justiça. Tem um administrador judicial que comanda tudo isso. A gente quer saber e está cobrando por que esse dinheiro não é distribuído para os trabalhadores.”

Ele ainda acrescente: “Não é nem questão de repasse. Pode ser a falta da administração judicial ter atualizado a lista de credores. Tem muita gente para receber, não só trabalhadores, mas também empresas que prestaram serviço. O montante da dívida, na época, era mais de 9 milhões de reais. Hoje, a gente sabe que tem em média 4 milhões em conta. Já poderia estar sendo distribuído. Na época, eram 450 trabalhadores no sistema. Depois da reestruturação, ficaram apenas 195. Quem tá trabalhando tranquilo, está ganhando seu salário. Mas quem foi desligado, até hoje não recebeu suas verbas. A gente queria que a Justiça de Petrolina olhasse com sensibilidade para esses trabalhadores.”

Já o sindicalista Erisvan alertou para o risco de paralisação, caso os pagamentos e garantias não avancem. Ele também comentou sobre os desafios enfrentados pela categoria durante a transição anunciada.

“Estamos aguardando o administrador judicial nos passar a lista atualizada. Em relação à Atlântico, hoje a gente já está com 18 meses de aviso à nossa categoria. Esse tempo é o previsto no contrato como reposição, não é subsídio. É uma reposição pelo tempo que a Atlântico opera no município, pela gratuidade dos idosos. Muita gente acha que não se paga, mas quem paga é o governo com a prefeitura. A gente está no meio de uma campanha salarial, no meio dessa confusão. Então, eu acho que não tá descartada uma greve no sistema, não.”

Erisvan ainda apontou a queda no número de passageiros e a perda de rentabilidade do serviço como fatores que explicam a desistência da empresa.

“Antes, com a Joalina e a Viva, a gente transportava 600 mil passageiros por mês. O faturamento mensal era em torno de 3 milhões de reais. Hoje transportamos cerca de 333 mil passageiros, com um faturamento de 1,6 milhão. É um sistema público-privado. Se a empresa não está dando lucro, o dono não vai querer trabalhar. Talvez a Atlântico ainda tente recorrer da decisão que a impede de participar da nova licitação.”

Ao ser questionado se ele sabia quem era o dono da empresa, o motorista foi enfática ao dizer que desconhecia “E até hoje, mesmo a gente trabalhando, não sabemos quem é o dono da Atlântica”, concluiu.

A reportagem aguarda posicionamento oficial da Prefeitura de Petrolina e da Ammpla sobre os pontos levantados pelos representantes sindicais.