As chamadas canetas emagrecedoras têm ganhado popularidade nos consultórios médicos e nas redes sociais como uma solução rápida para perda de peso. Mas o que está por trás do efeito dessas medicações? São seguras? Quais os riscos do uso sem acompanhamento? Para responder a essas e outras perguntas, o programa Nossa Voz convidou a endocrinologista Dra. Tereza Lacerda, especialista em obesidade e diabetes.
Esses medicamentos, que surgiram inicialmente para o controle do diabetes tipo 2, passaram a ser prescritos também para o tratamento da obesidade — uma doença crônica que, segundo a Dra. Tereza, “precisa ser encarada com seriedade, acompanhamento e responsabilidade”.
“As canetas que utilizamos para perda de peso já são aprovadas, tanto pelo FDA quanto pela Anvisa, e fazem parte das principais diretrizes para tratamento da obesidade. Elas agem em diversos pontos: estimulam a liberação de insulina, retardam o esvaziamento gástrico, controlam o apetite e reduzem a glicemia. Mas são medicamentos potentes, que exigem avaliação clínica criteriosa antes do uso.”
Entre os compostos citados por ela estão a liraglutida, a semaglutida (presente em medicamentos como Ozempic e Wegovy) e a mais recente tirzepatida, comercializada no Brasil sob o nome de a Mounjaro. Esta última, segundo a especialista, tem um potencial de perda de peso comparável ao de uma cirurgia bariátrica.
“A a Mounjaro se diferencia por ser um duplo análogo, agindo em dois hormônios intestinais. Com ela, os estudos apontam perda de peso de até 22%. É um avanço significativo, mas que deve ser acompanhado de perto por um médico. Uma perda de peso muito rápida pode causar queda de cabelo, perda de massa magra e outros efeitos que não são desejáveis, especialmente em pacientes idosos.”
Apesar dos benefícios, o uso indiscriminado vem preocupando os profissionais da saúde. Casos de automedicação, manipulação não supervisionada e compra em canais não regulamentados são frequentes.
“Infelizmente, há venda irregular em clínicas, em redes sociais e até casos de medicamentos falsificados. Já houve relatos de canetas adulteradas com insulina. A orientação é clara: essas medicações devem ser adquiridas apenas em farmácias autorizadas pela Anvisa. Comprar fora desses canais é um risco real à saúde.”
Outro ponto importante levantado por Dra. Tereza é a ilusão de que a caneta, por si só, resolve o problema da obesidade. Ela reforça que o medicamento é apenas parte do tratamento.
“Muita gente acredita que basta aplicar a caneta e seguir a vida como antes. Isso é um erro. O tratamento da obesidade precisa incluir mudança de estilo de vida: alimentação saudável, prática regular de atividade física e acompanhamento psicológico em alguns casos. Sem isso, o paciente até pode perder peso, mas vai recuperar logo em seguida, o chamado efeito sanfona.”
Quanto ao tempo de uso, a endocrinologista esclarece que as canetas podem ser utilizadas por tempo prolongado, mas que o ideal é monitorar o paciente e fazer o desmame de forma gradual.
“Obesidade é uma doença crônica, como diabetes ou hipertensão. Em alguns casos, o paciente pode até parar a medicação, mas isso depende da resposta individual. O fundamental é avaliar a causa da obesidade, o comportamento alimentar, a genética. Cada caso é um caso.”
Caneta emagrece mesmo? E quem não tem diabetes, pode usar? A resposta é sim — com ressalvas. A doutora tranquiliza os ouvintes que não têm diabetes, explicando que os medicamentos não provocam a doença.
“Essas medicações são seguras para quem não é diabético. Elas foram estudadas em pessoas com obesidade sem diabetes, por isso a aprovação. O que pode acontecer é o paciente pular refeições, por causa da redução do apetite, e ter hipoglicemia. Mas isso é corrigido com orientação nutricional adequada.”
Uma dúvida comum dos ouvintes é sobre a aplicação: onde e com que frequência? Segundo a endocrinologista, a aplicação é simples.
“As canetas utilizam agulhas fininhas, semelhantes às de insulina. A aplicação é subcutânea, geralmente na barriga, em rotação de lados. A maioria das medicações é de uso semanal. Apenas a liraglutida exige aplicação diária.”
Em resumo, as canetas emagrecedoras são uma ferramenta moderna e eficaz no tratamento da obesidade, mas seu uso requer cautela, responsabilidade e orientação médica.
“A gente não pode tratar a obesidade com pressa nem com soluções mágicas. Essas medicações representam um avanço, mas devem ser usadas com critério. A base do tratamento ainda é a mudança de hábitos. Só assim o paciente terá resultados sustentáveis e uma vida mais saudável.”