Em entrevista exclusiva concedida nesta semana, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, detalhou um dos projetos logísticos mais ambiciosos do governo federal: a nova hidrovia do São Francisco, batizada de HN 500. A proposta prevê a interligação do Nordeste ao Centro-Sul do país, passando por mais de 500 municípios e beneficiando diretamente mais de 10 milhões de pessoas. A iniciativa coloca o eixo Petrolina-Juazeiro no centro de uma estratégia nacional de desenvolvimento sustentável.
“A partir de agora nós vamos conversar com o ministro Silvio Costa aí direto de Brasília e vamos falar sobre um projeto que pode redefinir definir a logística e a economia do país. É a nova hidrovia do São Francisco, batizada de HN 500. A proposta é interligar o Nordeste ao Centro Sul do Brasil, passando aqui por mais de 500 municípios e beneficiando diretamente mais de 10 milhões de pessoas. É uma pauta aqui que coloca o eixo Petrolina-Juazeiro no centro de uma rota estratégica de desenvolvimento e sustentabilidade.”
Silvio Costa Filho enfatizou que o projeto nasce de um amplo diálogo com autoridades e representantes do setor produtivo nordestino:
“Eu tenho conversado muito com o governador da Bahia, o governador Jerônimo, o ministro da Casa Civil Rui Costa, dialogando com o setor produtivo do Nordeste, com os governadores do Nordeste, da importância de uma hidrovia estratégica para o São Francisco e para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro.”
Segundo o ministro, a hidrovia aproveitará o potencial hídrico do rio São Francisco, que poderá se tornar uma rota alternativa ao transporte rodoviário e ferroviário, com grande capacidade de escoamento de produção:
“Você sabe que a gente tem um grande potencial econômico no Nordeste, que hoje uma parte é feita por ferrovias, a outra parte por rodovias, mas a gente tem esse grande canal de acesso, esse grande canal hídrico da região Nordeste que é nosso Rio São Francisco.”
O projeto prevê uma concessão hidroviária para o Porto da Bahia, com investimentos estimados em mais de R$ 1 bilhão. A ideia é que a iniciativa privada seja responsável por melhorias e dragagens necessárias ao longo do curso do rio:
“A gente vai ao longo desses próximos meses estruturar essa concessão para que a gente possa criar efetivamente uma nova hidrovia para o São Francisco. Que isso vai ajudar no escoamento da produção, vai reduzir custos logísticos e vai estimular cada vez mais o desenvolvimento da economia bi-Petrolina do São Francisco e do Nordeste.”
Costa Filho detalhou como a hidrovia poderá impactar positivamente diversos setores econômicos da região:
“Você tem uma ideia, hoje a gente tem o milho no sul do Piauí, no oeste da Bahia, a gente vai poder trazer por barcaças, por barcos e navios esse milho aqui para Pernambuco para ajudar na pecuária, para ajudar na avicultura, na suinocultura. Então, tudo isso vai estimulando a economia do nosso estado.”
“Da mesma forma, a gente vai poder fazer com que as nossas frutas do São Francisco possam também escoar, passando pela Bahia, pelo Piauí, pelo Maranhão, subindo até Minas Gerais e aí fazendo todo o escoamento dessa produção.”
Uma das ações previstas é a criação de miniportos IP4 para facilitar a entrada e saída de cargas ao longo da hidrovia. O primeiro deles deve ser anunciado já nesta semana:
“Devemos anunciar amanhã aí em Petrolina, o IP4, que é um novo porto aí para a cidade, para que a gente possa através desse porto entrar com essa hidrovia.”
Infraestrutura e sustentabilidade
A primeira fase da hidrovia irá de Juazeiro, Petrolina até Ibotirama, com capacidade para 5 milhões de toneladas por ano. O ministro explicou que, para isso, serão necessárias obras de dragagem e sinalização:
“A ideia é que esse projeto seja construído de maneira coletiva. Vai ser preciso fazer em alguns trechos desse canal de acesso de toda a região hídrica… alguns pontos passarão por dragagem. Mas isso fará parte dessa concessão hidroviária. A ideia é que a gente faça a modelagem que deve ser encaminhada ainda esse mês à Infra S.A., que vai preparar todo o projeto. Depois a gente encaminha para Tribunal de Contas da União, e a partir daí a gente poder fazer no início de 2026 essa concessão hidroviária.”
A preservação do Rio São Francisco será um ponto central da iniciativa:
“A ideia é que a gente possa, já na concessão, incluir a necessidade de dragagens e a necessidade de estudos técnicos permanentes para a preservação do Rio São Francisco. A gente quer poder, através dos nossos rios, ter um olhar para a sustentabilidade.”
Conectividade aérea e desenvolvimento regional
O ministro também aproveitou para destacar avanços na aviação regional, especialmente em Petrolina, onde foram investidos quase R$ 70 milhões no aeroporto em 2024. Ele afirmou que o governo federal está em tratativas para ampliar a malha aérea da cidade:
“A gente conseguiu viabilizar agora para setembro o voo da LATAM. Eu tenho conversado com a companhia aérea Gol, que não descarta fazer uma operação de voos também para Petrolina. A Azul tá com dificuldade, mas a gente tá trabalhando, porque vocês sabem que a Azul tá em recuperação judicial.”
Silvio Costa Filho incentivou os consumidores a planejarem suas viagens com antecedência para evitar os altos preços das passagens:
“Se você comprar, por exemplo, uma passagem com 2, 3, 4, 5 meses de antecedência, você compra a passagem pelo por no mínimo 50% do preço. Mas infelizmente, quando a gente deixa para os últimos 15 dias… esses preços chegam a ser muito altos.”
Olhar estratégico para o Nordeste
Finalizando, o ministro expressou sua admiração pelo potencial do Vale do São Francisco, reforçando que o projeto é parte de um esforço coletivo com apoio do presidente Lula e diversas lideranças regionais:
“Eu confesso a você mesmo que eu sou encantado com a capacidade que tem o Vale do São Francisco. Não só do ponto de vista econômico — a nossa fruticultura, a nossa vinicultura, a piscicultura, a pecuária — mas também por tudo o que representa. Tenho conversado com o presidente Lula, com a bancada de deputados federais, com o deputado Fernando Filho, Lucas Ramos, Dr. Guilherme Coelho… Esse é um trabalho coletivo que, sem dúvida alguma, vai ajudar muito a região.”
O futuro da hidrovia do São Francisco está em construção — e o Nordeste parece finalmente navegar rumo ao protagonismo logístico e econômico que há décadas lhe é devido.