Pernambuco vive uma crise silenciosa, mas devastadora: a do abandono da sua Polícia Civil.
A instituição responsável por investigar crimes, desarticular quadrilhas e garantir justiça à população está agonizando — não por falta de vontade dos seus profissionais, mas por falta de compromisso político e estrutural do Governo do Estado.
Hoje, são mais de 94 mil inquéritos sem investigação e 14 mil inquéritos de homicídios paralisados. Cada processo parado é um crime sem resposta, uma família sem justiça e um criminoso à solta. É a impunidade institucionalizada, o maior combustível da violência.
As Delegacias da Mulher, que deveriam ser símbolo de acolhimento e proteção, funcionam de forma precária (a dpmur de Prazeres está caindo aos pedaços) e interrompem o atendimento à noite, nos fins de semana e feriados, justamente quando as vítimas mais precisam de ajuda.
Esse é o retrato real de um Estado que figura entre os mais violentos do país.
Enquanto isso, os policiais civis de Pernambuco recebem o pior salário do Brasil.
E não é por falta de promessa: a própria governadora Raquel Lyra, ainda candidata, esteve no SINPOL e assinou um termo público de compromisso, prometendo valorização e melhores condições para a categoria.
Hoje, essa promessa virou silêncio e frustração.
O governo anunciou com grande alarde mais de R$ 2 bilhões em investimentos na segurança pública.
Mas, até agora, esses recursos não chegaram às delegacias, nem às investigações, nem aos policiais civis.
Nenhuma melhoria concreta, nenhum avanço visível.
A pergunta é inevitável: será que esses investimentos só aparecerão em 2026, quando o calendário eleitoral exigir propaganda?
Enquanto o governo investe em publicidade, as delegacias caem aos pedaços e os policiais adoecem por falta de estrutura e reconhecimento.
Faltam melhores equipamentos, tecnologia e valorização salarial (o policial de Pernambuco ganha uma vergonha de salário). Falta tudo — menos coragem e compromisso dos profissionais que continuam nas ruas, sustentando o que resta da credibilidade da segurança pública pernambucana.
Mas nenhum herói resiste ao abandono.
A verdade é simples: sem valorização, não há investigação; sem investigação, não há justiça; sem justiça, não há paz.
O povo vive com medo, e os policiais, com o sentimento de abandono.
O resultado disso é um Estado refém da violência e da impunidade.
Governadora, a palavra de um político é sua maior riqueza.
Ninguém aguenta mais tanta violência, tanta propaganda e, de concreto, tão pouco.
Cumpra com o que a senhora prometeu aos policiais civis e ao povo pernambucano.
Cumpra, Raquel. O povo está esperando — e a história também.
Áureo Cisneiros
Presidente do SINPOL-PE
Defensor da Segurança Pública como Direito Fundamental



