Osvaldo Coelho: o patrono da irrigação e o homem que plantou futuro no Sertão

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Dez anos depois de sua partida, o nome de Osvaldo Coelho continua vivo, nas águas que correm pelos canais do São Francisco, nas salas de aula do Sertão e, principalmente, na memória de quem o amou. Para a filha, Ana Amélia Lemos, diretora do Sistema Grande Rio de Comunicação, o tempo não apagou a saudade nem diminuiu o orgulho.

“Não é fácil perder um genitor. Eu pensei que me acostumaria, mas a gente não se acostuma com a saudade. A gente sobrevive à saudade.”

Ana Amélia diz que, com o passar dos anos, a dor da ausência se transformou em sentimento de vida.

“Meu pai foi genitor de uma legião de filhos com raízes fincadas no Sertão. Muitos nem o conheceram pessoalmente, mas vivem dos sonhos que ele sonhou. Ele vive nas suas obras, nas homenagens e nas lembranças de muitos amigos. Meu pai está eternamente vivo dentro de mim.”

A filha mais nova de Oswaldo também fala sobre a herança emocional e o exemplo que ele deixou.

“Ele teve 50 anos de vida pública e só sabia fazer o que era servir. Se eu pudesse ter cinco segundos com ele, daria um abraço forte e não largaria mais”, emociona-se.

Para ela, o legado do pai vai além das realizações políticas ou das obras estruturais. É uma herança de valores.

“Esse sentimento de sobrevivência vai se tornando um sentimento de vida longa, de vida eternizada. Eu me sinto privilegiada por ser filha de alguém que vive em cada pessoa que acredita no Sertão.”

Filho do coronel Clementino de Souza Coelho (Quelê) e de Dona Josefa Coelho, nascido em 1931, Osvaldo Coelho dedicou mais de quatro décadas da sua vida à política. Foram 11 mandatos, três na Assembleia Legislativa de Pernambuco e oito na Câmara Federal, sempre com um propósito inabalável: dar dignidade ao povo sertanejo.

Conhecido em todo o país como “o deputado da irrigação”, ele acreditava que o Sertão não precisava de pena, mas de oportunidade. “O futuro do Sertão depende de investir em gente, em estudo e em oportunidade”, dizia. Mais do que cargos ou títulos, deixou um legado que transformou a paisagem do Vale do São Francisco e a vida de milhares de famílias.

A história de Osvaldo começa como a de tantos nordestinos, entre a seca e o esforço. Ele conheceu de perto o sofrimento dos retirantes e decidiu que o Sertão não podia viver de esmola. Em discursos marcantes, falava da missão que o movia:

“Eu tenho um mandato para proteger aqueles que a natureza não protegeu. Tenho um mandato para convocá-los para uma grande pátria unida, fraterna.”

A fé na educação e na irrigação o levou a liderar projetos que transformaram o Sertão em uma região fértil de oportunidades. Foi dele a luta que deu vida ao projeto Senador Nilo Coelho, que consolidou Petrolina como um dos maiores polos de fruticultura irrigada do Brasil.

O empresário Sílvio Medeiros, amigo de longa data, lembra com carinho do líder que chamava de “arquiteto do Vale do São Francisco”.

“A impressão que tive ao conhecê-lo era de estar diante de um construtor de uma joia rara que é Petrolina. Ele acreditava que o Nordeste podia produzir, gerar oportunidades. A casa dele era simples, mas as ideias eram grandiosas.”

Sílvio recorda as conversas com o amigo sobre as secas, as migrações e a dor do povo.

“Essas lembranças o tornaram um bravo lutador. Ele não queria mais ver o sertanejo partir, queria ver o sertanejo prosperar.”

Graças à sua atuação, Petrolina deixou de ser ponto de partida e se tornou destino, um centro de oportunidades, educação e crescimento.

A educação foi o outro grande pilar do seu legado. Lutou pela criação do antigo Cefet, hoje IF Sertão, e pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), sonho que simbolizava sua crença no poder transformador do ensino.

“Não é o aluno que tem que ir atrás da escola. É a escola que tem que ir atrás do aluno. Eu dei um endereço para a universidade: o Sertão”, dizia com orgulho.

Patrono da irrigação em Pernambuco, Oswaldo Coelho acreditava que o desenvolvimento nasce quando se planta esperança. “O Sertão não pode viver de esmola, precisa de investimento, de produção e de fé no trabalho”, costumava repetir.

Hoje, o Sertão que ele tanto defendeu continua florescendo, nas águas do Velho Chico, nas lavouras irrigadas e nas salas de aula cheias de jovens sonhadores.

Osvaldo Coelho não morreu. Ele floresceu nas margens do São Francisco e no coração de cada sertanejo que aprendeu, com ele, a acreditar no próprio valor.