A promessa de campanha foi a volta da picanha no churrasco do brasileiro, mas até lá, há um longo caminho a ser trilhado. Segundo o doutor em economia aplicada, João Ricardo Lima, o mapa da fome e desigualdades no Brasil impõe uma prioridade ao governo Lula que não pode ser ignorada.
“Efetivamente, isso é um processo. Essas coisas não acontecem num curtíssimo prazo, então você precisa ter todo um período, em diversas situações, de reconstrução. Então, num momento agora, acho que a prioridade já começou. Você tem uma política de valorização do salário mínimo, se estava com uma preocupação forte com aquelas pessoas que são mais pobres. Para a gente chegar na picanha tem que resolver a situação das pessoas que estavam indo para as filas dos supermercados para comprar osso, para comprar pele de frango. Então, para sair deste momento e chegar na picanha a gente tem várias frentes que precisam ser reconstruídas”.
Em entrevista ao Nossa Voz desta quinta-feira (05), o economista também apontou a necessidade de manter os olhos voltados para as metas fiscais e econômicas, mas atrelado a valorização do salário mínimo. “É preciso fazer isso mantendo a questão da preocupação fiscal, mas ao mesmo tempo, olhando para as políticas de crescimento, de geração de renda, precisamos crescer, exportar mais, precisamos que as pessoas voltem a ter renda para consumir. Isso a gente consegue com mais empregos que precisam ser gerados, mas as perspectivas de crescimento econômico nos últimos anos são sempre muito baixas”.
Lima relembra que na gestão de Bolsonaro, os brasileiros viveram os dois extremos e buscam agora estabilidade e retorno do poder de compra. “A gente precisa pensar mesmo, até em políticas efetivas para crescimento para que mais pessoas voltem ao mercado de trabalho, a gente já viveu, em anos anteriores, os dois extremos: baixíssimas taxas de desemprego e elevadíssimas taxas de desemprego. A gente precisa voltar a ter taxas de desemprego mais baixas e valorização dos salários. E aí entendemos que conseguiremos fazer com que as pessoas voltem, não só a comer da picanha, mas voltem voltar a conseguir comprar bens, eletrodomésticos, trocar os veículos e assim sucessivamente. Viver melhor, poder viajar, inclusive para o exterior, independente da sua condição, se você é empregada doméstica ou não”, projetou.
Mas esta não será uma tarefa fácil, segundo o economista. “O novo governo começa agora, com extrema dificuldade neste ponto de vista. Chegamos ao final do ano e se os salários não foram atrasados, não tinha recursos nem para fazer passaporte, vimos na imprensa coisas assim. Então, realmente este ano começa desse ponto de vista orçamentário, foi necessário toda uma articulação para ter algum tipo de espaço. É um ano que começa, no meu entendimento, com boas perspectivas, a nível de população como um todo, tem os seus ruídos, sempre vemos as questões do mercado”.
Questionado sobre as quedas sofridas pela bolsa de valores brasileira a cada recente anúncio do Mistério da Economia, João Ricardo esclarece que o mercado está se baseando em projeções: “que existe a possibilidade do governo se endividar mais nos próximos anos, não reduzir essa relação dívida sobre PIB”, listou. “E do ponto de vista dele [do mercado], ele está entendendo que é possível que os ganhos que eles têm tido nos últimos anos, acabam sendo menores para o próximo período. O que o mercado não consegue entender é que ele é uma parcela da sociedade, mas ele não é a sociedade inteira. Um gestor tem que fazer as políticas pensando na população como um todo”, pontuou.
Sendo assim, para o especialista, as quedas recentes não definem uma má gestão. “Esse pessoal de mercado acompanha vários indicadores, mas não acompanha os indicadores como quais são as perspectivas para o final do ano para o índice de desenvolvimento humano, quais são as perspectivas em 2023 em relação à taxa de pobreza. E isso é uma preocupação dos gestores. Eu não posso chegar ao final do ano olhando só como está a minha taxa de juros e como fechou o ano a Bovespa, ou o câmbio. Eu também tenho que me preocupar em como a minha população chegará no final de 2023. Ela chegará mais pobre ou menos pobre. Se ela chegar menos pobre, então, me parece que fiz um bom governo”.