Leitos de UTI beirando a totalidade de ocupação todos os dias, mais de mil casos confirmados a cada semana e o aumento da taxa de internação em estado grave da população mais jovem em virtude de complicações causadas pela covid 19. Esse é o cenário da curva de contágio pelo coronavírus em Petrolina. Em entrevista ao Nossa Voz na manhã de hoje (15), o coordenador do colegiado de economia da Facape e pesquisador, João Ricardo Almeida, foi bem claro em dizer que, ao comparar o que vivenciamos agora em relação a pandemia com o mesmo período do ano passado, estamos atravessando um verdadeiro tsunami. A afirmação pode ser confirmada com a constatação dos recordes relativos ao número de novos casos positivos semanalmente e a média de mortes por dia, causadas pela covid 19.
“Para você ter uma ideia, na semana passada Petrolina teve um recorde de novos casos em uma semana. Foram 1.176, sendo que duas semanas antes já tinha superado a casa dos mil casos, foram 1.095. (…) Desde quando em Petrolina começou a pandemia, o primeiro caso foi no dia 23 de março, a gente levou quase três meses para passar de mil casos. Agora, tem sido assim toda a semana. No caso de óbitos, o que mais ocorria era ter uma média de três óbitos por semana, agora, três óbitos acontecem na média por dia”, alertou.
A aparente apatia do poder público em relação a alta taxa de ocupação dos leitos de UTI também preocupa o pesquisador. “A pandemia cresce de forma muito assustadora nessas últimas semanas na nossa cidade. E a gente continua com esse percentual de ocupação de leitos de UTI muito altos. Há algum tempo, se chegasse perto dos 80% de ocupação já começava a se pensar em medidas de aumento dos índices de isolamento. Agora, aparentemente está normal ter 100% dos leitos de UTI ocupados”, lamentou.
Sobre o perfil dos ocupantes das unidades de terapia intensiva, João Ricardo confirma que Petrolina replica o cenário nacional. Apesar de não receber os dados oficialmente através das Secretarias Municipais de Saúde de Juazeiro de Petrolina, os dados obtidos junto as unidades de saúde deixam claro o acréscimo da população mais jovem na lista de casos graves. “As duas prefeituras, através das suas secretarias de saúde não tem disponibilizado para as nós pesquisadores [dados das] pessoas internadas através do perfil de idade. Contudo, nossa equipe tem um perfil multidisciplinar e tem conversado com profissionais da área de saúde e elas tem nos passado que nos passado informações de que o perfil realmente mudou. São pessoas mais jovens que estão hoje internadas em leitos de UTI. E eu acho que isso vai começar a parecer nos dados de óbitos”.
A suspeita do pesquisador vem dos dados preliminares obtidos através do estudo dos óbitos ocorridos pela covid 19, que deve ser publicado no início de maio. “Os dados preliminares já mostram que os percentuais de óbitos diminuíram muito na população acima de 60 anos até menos de 90 anos em Petrolina. A gente comparou depois do dia 20 de fevereiro com antes de 20 de fevereiro de 2021. E porque essa data? Porque a vacinação em Petrolina começou em 19 de janeiro, então temos a primeira e a segunda dose e o período em que as pessoas ficam imunizadas. Então, 30 dias depois da vacinação, já começa a aparecer claramente a diminuição no número de óbitos de pessoas mais velhas, que eram as que mais ocorriam, e começa a ter um aumento na quantidade de óbitos, se em comparação com o período anterior, das pessoas com mais de 40 e menos de 60 anos. E isso, com certeza, reflete o perfil das pessoas que estavam nos leitos de UTI”, apontou. “São pessoas que ficam mais tempo nos leitos de UTI e os deixam ocupados por mais tempo”, acrescentou.