A mobilidade urbana tem se tornado um dos maiores desafios de cidades em expansão, como Petrolina. Em meio a obras estruturantes, crescimento populacional e aumento da frota de veículos, uma parcela importante da população tem enfrentado dificuldades diárias: os ciclistas.
Para falar sobre essa realidade, conversamos com Luciano Oliveira, ciclista, ativista e integrante do grupo Ciclistas do Vale. Ele detalhou a precariedade da infraestrutura voltada à mobilidade ativa e o impacto da ausência de ciclovias em vias estratégicas da cidade, como a BR-407 e o trecho da Transnordestina.
“oficialmente, a prefeitura trabalha na cidade dizendo que tem 45 km de ciclovia. Na verdade, ciclovia oficial mesmo temos ali em frente ao Batalhão. A que pega do Batalhão em direção ao Carneiro, ali sim é ciclovia. Ciclovia de verdade: aquela com 1,5m a 2m de largura, laterais de 20cm, protegida dentro da lei. Mas o que temos na ordem não é ciclovia, é um calçadão. É de todo mundo, não é específico. A da BR com a BR428 é ciclovia porque foi exigência nossa. Levamos ciclistas no DNIT, fizemos pressão porque erraram na 7 de Setembro. Lá, não fizeram. Na BR428, sim. Foram 6 km conquistados com luta, com reunião, com imprensa.”
Apesar das conquistas, Luciano destaca o que chamou de descaso com os compromissos assumidos para a construção de ciclovias em outros pontos críticos da cidade, como a BR-407:
“Infelizmente, o DNIT não fez a ciclovia da BR 407. Ela foi prometida, divulgada, planejada, tá na planta. A previsão ia até o parque de vaquejada, ali no Burrinho. Mas a obra parou e não se sabe por quê. Melhoraram a pista, acostamento, mas a ciclovia que estava prevista não saiu do papel. Isso tem gerado risco direto a quem precisa trafegar por ali, especialmente moradores do Cosme e Damião e do bairro Quati.”
O ativista também denunciou a insegurança causada por intervenções mal planejadas:
“Na passagem que liga o Quati ao Cosme e Damião, por exemplo, colocaram duas passagens de pedestre bem distantes. Nos horários de pico, a gente vê gente pulando a mureta de concreto porque não tem passagem adequada no ponto mais movimentado. É um risco imenso. A BR 407 vai ser um gargalo de mobilidade e de sinistros, se nada for feito.”
Na mesma linha, moradores também relatam os perigos enfrentados no dia a dia. José Ribeiro, morador do loteamento Bela Vista, reforça:
“Aqui é todo dia acidente. A entrada do Bela Vista é a mesma do Cosme e Damião. Velocidade alta, colisão, engavetamento. Caminhão já tombou aqui. É rotina. A gente vê outras cidades do mundo investindo em mobilidade ativa. Em Paris, tiraram os carros do centro. E aqui, a gente nem secretaria exclusiva pra isso tem. Tá tudo espalhado. Aí ninguém faz.”
Além da estrutura física, a convivência entre modais no trânsito também preocupa. Segundo Luciano, a cidade ainda carece de educação no trânsito e de fiscalização sobre o uso irregular de bicicletas motorizadas.
“Existe a Lei 13.346/15, que diz que toda BR que passa por cidades tem de ter calçadão e ciclovia. Mas aqui ainda reina o improviso. A gente vê médico, policial federal, trabalhador da periferia, todo mundo de bicicleta. Mas falta respeito. E essas bicicletas motorizadas que estão aparecendo? São um caos. Viram praticamente motos, mas sem capacete, sem pisca, sem regra. Muitos entregadores andam na contramão, cortam sinal. A fiscalização precisa atuar. E, mais que isso, precisa haver educação, campanhas permanentes.”
Luciano também destaca que há diversos grupos organizados de pedal em Petrolina, que vão desde os que usam bikes como transporte no dia a dia, até grupos de trilha que circulam pela zona rural e serras da região. Mas todos enfrentam a mesma fragilidade: a ausência de segurança viária.
“Não dá pra dividir com o carro. Tem que ter cuidado. O motorista está protegido, o ciclista não. É preciso fazer um trabalho educativo forte. E mais do que isso: criar uma secretaria específica pra mobilidade ativa. Hoje, tudo se perde. Um órgão empurra pro outro. E quem perde somos nós, usuários.”
Três medidas urgentes para quem pedala
Ao final da entrevista, perguntamos a Luciano quais medidas o poder público deveria adotar imediatamente para melhorar a mobilidade de quem usa bicicleta em Petrolina:
“Primeiro: criar uma Secretaria de Mobilidade Ativa. Só assim vai ter foco. Segundo: fazer valer a lei e construir ciclovias nas BRs e avenidas estruturantes, como a 7 de Setembro. Terceiro: educação no trânsito, permanente. Não é só multar, é conscientizar. Eu mesmo ando de bicicleta no centro porque é mais rápido, prático. Mas tem gente que precisa da bicicleta pra trabalhar. E todo mundo merece respeito, segurança e estrutura.”