Nesta segunda-feira (27), o perito criminal Thiago Bruno Oliveira, do Instituto de Criminalística e da unidade regional da Polícia Científica de Petrolina, foi entrevistado no programa “Nossa Voz” para discutir a Campanha Nacional de Identificação de Pessoas Desaparecidas. A campanha, que ocorre de 26 a 30 de agosto, visa ampliar o banco de dados de DNA de familiares de pessoas desaparecidas, facilitando a localização desses indivíduos em todo o território nacional.
Durante a entrevista, Thiago Bruno detalhou a importância dessa mobilização e o funcionamento do sistema de identificação. “A mobilização nacional é crucial porque nos permite integrar bancos de dados de DNA de diferentes estados, aumentando as chances de encontrar pessoas desaparecidas,” explicou Thiago Bruno.
“Por exemplo, se uma pessoa desaparece na Bahia e o parente mais próximo está em São Paulo, essa coleta de DNA pode ser feita em São Paulo e cruzada com informações da Bahia. Isso oferece uma visão nacional que é vital para localizar essas pessoas e trazer algum conforto às famílias,” enfatizou.
Thiago Bruno também destacou o processo de coleta e análise do DNA. “Quando um familiar realiza a doação de DNA, essa amostra é enviada para o estudo de genética forense, que em Pernambuco é processado em Recife. O DNA extraído é inserido no banco de dados nacional, que contém perfis genéticos tanto de pessoas vivas quanto de restos mortais não identificados,” disse.
O sistema, então, realiza uma varredura automática, comparando a nova amostra com as que já estão registradas. “Se houver um resultado positivo, os peritos criminais do estado responsável elaboram um laudo pericial e informam tanto o instituto que fez a coleta quanto a delegacia que está investigando o caso.”
O perito enfatizou que a integração entre bancos de dados de DNA já existe há algum tempo, e os resultados têm sido animadores. “Essa não é a primeira campanha desse tipo, e Pernambuco tem se destacado, estando em segundo lugar no Brasil em termos de pessoas localizadas por meio do banco de dados de DNA, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul,” revelou.
“Desde o início dessas campanhas, 83 casos positivos foram registrados em Pernambuco até março, e este ano já tivemos pelo menos mais 15 casos resolvidos.”, destacou Thiago Oliveira.
Para facilitar o acesso dos familiares, pontos de coleta foram estabelecidos em diversas regiões. Em Petrolina, a coleta ocorre no IML, localizado na Avenida Ouro Preto, junto à Delegacia do Ouro Preto. Além disso, equipes estarão em Cabrobó e Afrânio nos dias 28 e 29 de agosto, respectivamente, das 14h às 17h. “Essa é uma oportunidade para quem tem dificuldade de se deslocar até Petrolina, garantindo que mais pessoas possam participar da campanha,” destacou.
Sobre o procedimento de coleta, Thiago Bruno esclareceu que não há necessidade de jejum ou preparação especial. “O doador precisa apenas levar um documento de identificação. Após uma breve entrevista de cerca de cinco minutos, a coleta do material genético é feita de forma rápida e indolor,” explicou.
O perito também fez uma observação importante sobre a participação dos familiares: “Se possível, é recomendável que mais de um parente de primeiro grau, como pais ou filhos, participe da coleta. Quanto mais próximo o grau de parentesco, maior a precisão dos resultados. Irmãos também podem contribuir, mas parentes mais distantes, como avós ou primos, podem exigir a participação de mais familiares para aumentar a robustez da análise.”
Durante a entrevista, Thiago Bruno abordou também a relevância do uso do DNA em investigações criminais. “Sempre que ocorre um crime, como um arrombamento ou um homicídio, os peritos coletam amostras que possam conter o perfil genético do criminoso. Essas amostras são enviadas ao instituto de genética forense para análise e comparação com o banco de dados criminal. Esse processo é essencial para a identificação de suspeitos, mesmo quando a investigação não está inicialmente voltada para eles,” explicou.
Thiago Bruno ainda destacou a importância da coleta no local do crime. “Quando chegamos ao local de um crime, a prioridade é garantir que qualquer evidência genética seja preservada. Isso inclui amostras de sangue, saliva, fios de cabelo ou qualquer outro material biológico que possa ter sido deixado pelo criminoso. Esse material é coletado com extremo cuidado e enviado ao laboratório para análise. A partir daí, comparamos o DNA encontrado no local com o banco de dados, o que pode nos levar à identificação do autor do crime,” afirmou.
Ele ressaltou que, embora a análise de impressões digitais seja uma técnica valiosa, o DNA oferece uma alternativa importante, especialmente em casos onde as impressões digitais estão comprometidas. “O DNA traz uma possibilidade adicional de obtermos informações que podem ser decisivas para a investigação,” concluiu.
Oliveira fez questão de tranquilizar os participantes da campanha, explicando que o material genético coletado para a identificação de desaparecidos não será utilizado em investigações criminais. “É importante ressaltar que a doação para a campanha de identificação de desaparecidos é estritamente para esse fim. O material genético não será vinculado a nenhuma investigação criminal.”
Ao final, o perito reforçou o convite para que os familiares de pessoas desaparecidas aproveitem essa oportunidade e participem da campanha. Ele também sugeriu que, além da doação de DNA, os familiares levem itens pessoais dos desaparecidos, como escovas de dente ou dentes de leite, que possam conter material genético. “Esses itens podem ajudar significativamente na identificação e localização de pessoas desaparecidas,” concluiu.
A Campanha Nacional de Identificação de Pessoas Desaparecidas é uma iniciativa fundamental que oferece esperança para famílias em todo o país, e Petrolina desempenha um papel crucial nessa mobilização.