Em entrevista ao Nossa Voz desta sexta-feira (14), o presidente da Agência de Regulação do Município de Petrolina, Rubem Franca traçou um panorama preocupante sobre os serviços prestados pela Compesa nos últimos meses. Para ele, numa análise feita de dezembro até os dias atuais é possível constatar que essa é a pior fase de atuação da concessionária no município.
“Eu digo isso porque temos estatísticas, ouvimos a população, ouve o rádio e o seu programa e vemos que diariamente há um clamor muito grande da população com relação a falta d’água generalizada na nossa cidade e a falta de manutenção do nosso sistema de esgoto”, alertou.
Segundo Franca, há uma média histórica de 1500 notificações feitas por ano para a Compesa. O que equivale a até 120 delas feitas por mês, referentes a obstruções, vazamento de água e pavimentações que foram destruídas e não foram repostas. Entretanto, este ano a situação se agravou. “Nos primeiros três meses, nós detectamos 435 notificações da Armup à Compesa. Entramos em abril e a coisa piorou. Só nos primeiros dias nós tivemos mais de 150 notificações, principalmente de esgoto. A gente passa, realmente, por um caos muito grande na cidade”, apontou.
Reunião com o MP
O presidente da Armup ainda revelou que na última reunião, realizada no dia 06 de março, com representantes da Prefeitura de Petrolina, da Compesa e do Ministério Público, o então gerente regional da companhia, Marcelo Guimarães, admitiu que havia uma demanda reprimida de 800 pedidos da população, fora os que foram feitos pela agência reguladora. “Isso porque houve um sucateamento da frota de veículos que fazem a manutenção na cidade. Aqueles caminhões grandes, que têm as mangueiras enormes que são inseridas dentro da tubulação e sugam o material, a areia, o que causa a obstrução e faz a limpeza. Então, nós tínhamos 11 caminhões, que passaram a ser seis, para cinco, quatro, três, hoje são duas unidades para uma cidade deste tamanho”.
Drenagem
A Compesa admitiu em nota os problemas relacionados aos caminhões de manutenção, entretanto, somou à crise a falta de estruturas para drenagem da água das chuvas ocorridas nos primeiros meses do ano. “A drenagem é importante para a cidade, a água de chuvas não deve entrar na rede de esgotos porque é um volume muito maior, pode trazer danos e obstruções. Mas isso não é a causa principal para esses estouramentos e para essas obstruções. Porque nenhuma cidade é obrigada a ter esse sistema de drenagem em todas as ruas. Ela pode ser superficial, por cima do pavimento e depois, quando o volume de água for maior, entrar numa tubulação de drenagem adequada e seguir para um rio, para um riacho e assim por diante. Então, isto não é desculpa, é um álibi que Compesa criou para dizer que todas as obstruções, a causa é o problema da drenagem da cidade”.
Sendo assim, Fraca ainda reforça que a companhia não tem revisado as barreiras que impediriam a entrada da água das chuvas nas redes de saneamento. “O que causa a obstrução é a falta de tampas nos poços de visitas, a vedação deles, a vedação nas caixas de passagens. O que acontece? A Compesa, às vezes, vai fazer um serviço, tira uma tampa, ela pode estar quebrada e é jogada de qualquer jeito e não é assim. Está fora das normas da Compesa. Eu já escrevi isso, inclusive, numa notificação que fiz à companhia, que não aceito esse tipo de desculpas. Em alguns casos pontuais, a falta de drenagem pode contribuir para uma obstrução, mas não pode ser generalizado, não pode ser dito como a Compesa criou o álibi de que se não tem drenagem, portanto, o sistema não funciona”.
Privatização
Questionado sobre a possibilidade de privatização da companhia já em estudos pelo Governo do Estado, Rubem não se posicionou contra. Já sobre a concessão em Petrolina,está sob estudos. “Pior que está não pode ficar. Nós temos dois caminhos para o sistema de água e esgoto de Petrolina. Ou a gente licita novamente e tenta colocar uma empresa privada, ou retoma o sistema através da municipalização. São dois caminhos. Eu acredito que qualquer um deles será muito melhor do que o que estamos passando em Petrolina”.
Novo Gerente
Sobre novo gerente regional da Compesa em Petrolina, Alexsandro Chaves da Silva, que assumirá a vaga nesta segunda-feira (17), Rubem já deixou claro que espera ação. “Dou as boas-vindas já a Petrolina, que ele venha realmente como a garra, a vontade de resolver os problemas e principalmente dar uma resposta positiva à população. O que a gente não pode é continuar dizendo que fará um estudo, que vão ver daqui a dois ou três meses. Tem que vir decidido, cima para baixo, com a bagagem, com o dinheiro para resolver os problemas da cidade. Sem dinheiro a gente não resolve. Eu tenho dito aqui o quanto a Compesa fatura. E eu diria que, nesses últimos quinze anos, ela faturou aqui R$ 1bilhão”.
Desse valor, Rubem revela que apenas cerca de 4% disso foi investido na cidade. “Não sou eu que estou dizendo isso, mas é o Sistema Nacional de Informações, é o Instituto Trata Brasil. Apenas 3,36% de sua receita líquida é investida aqui em Petrolina. Quando questionam qual seria a solução para Petrolina, se existe uma solução mágica, eu digo que tem a solução. É investimento cara, é dinheiro. A gente não pode trabalhar, como a terceira maior cidade do estado de Pernambuco, com 80% da sua área com rede coletora de esgotos, com dois caminhões pra fazer manutenção. A gente não pode ter uma cidade com tanta rede com mil quilômetros de rede coletora de esgotos e investir R$ 3 milhões e pouco por ano. A gente tem que ter investimentos fortes na ampliação do sistema. O faturamento anual é de R$ 111 milhões, entendeu? A gente não pode conviver assim. A gente tem que ter investimentos, tanto na área de ampliação. O Antônio Cassimiro está lá largado. É uma bacia enorme, quantas mil pessoas estão lá com o esgoto na porta”, lamentou.