O recente registro dos primeiros casos de metapneumovírus humano (HMPV) em Pernambuco trouxe preocupação às famílias e aos profissionais de saúde. As amostras positivas foram de duas crianças, uma de 1 ano e 7 meses e outra de 3 anos e 11 meses, que são moradoras do Recife e Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana. Ambas apresentaram sintomas como febre, tosse, desconforto respiratório e diarreia, mas já receberam alta hospitalar após tratamento.
Em Pernambuco, a circulação do hMPV não é uma novidade. Casos anteriores foram registrados em anos passados, com picos em 2016, quando 15 casos foram confirmados, e em 2022, com 27 registros.
Para esclarecer as dúvidas sobre o tema, as otorrinolaringologistas, doutoras Isabela Coutinho e Raquel Coelho, abordaram os principais aspectos do HMPV, desde os sintomas até as formas de prevenção.
“Ao falar do metapneumovírus humano, estamos lidando com um agente que já circula no Brasil há décadas, mas que tem mostrado maior disseminação recentemente, em parte devido à globalização e ao aumento do trânsito de pessoas,” explica a Dra. Isabela Coutinho.
“O hMPV, um vírus respiratório amplamente conhecido, pertence à mesma família do Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Embora geralmente cause sintomas leves, como resfriado comum – tosse, febre e congestionamento nasal –, em pessoas mais vulneráveis, como crianças, idosos e indivíduos imunocomprometidos, o quadro pode evoluir para uma forma grave, levando à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Este vírus, embora comum em épocas mais frias, está se manifestando de forma mais ampla e com maior intensidade em países como a China, o que acende um alerta para a população global”.
A especialista ainda ressalta que, apesar do aumento de casos, não há motivo para pânico sobre uma possível pandemia. “A Organização Mundial da Saúde acompanha de perto os surtos e reforça que o maior impacto do HMPV é em grupos vulneráveis, como crianças, idosos, gestantes e pessoas com comorbidades, como diabetes e hipertensão. Nosso maior cuidado deve ser com a prevenção, especialmente com o retorno das aulas.”
Diferenciar o HMPV de outras infecções respiratórias é um desafio, segundo a Dra. Raquel Coelho. “Os sintomas de infecções respiratórias são muito parecidos. Em geral, temos dor de cabeça, nariz entupido, tosse e, no caso das gripes, febre e maior intensidade nos sintomas. O que diferencia uma gripe de um resfriado, por exemplo, é justamente a gravidade: a gripe tende a derrubar mais o paciente, com dores no corpo e febre alta, enquanto o resfriado é mais leve, com coriza e espirros.”
Sobre os quadros mais graves, a médica alerta para a importância de observar sinais específicos. “Se os sintomas persistirem por mais de 10 dias, ou se houver febre prolongada, dor no peito e falta de ar, é fundamental buscar atendimento médico. Esses são sinais de alerta que podem indicar complicações, como pneumonia ou infecção respiratória aguda.”
Embora não exista uma vacina específica para a prevenção do hMPV, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco destaca a importância de manter a carteira vacinal em dia, especialmente as vacinas contra a gripe e Covid-19.
A vacinação é a principal aliada na prevenção de quadros graves. “Manter o calendário vacinal em dia é essencial, especialmente para crianças e idosos,” destaca a Dra. Isabela. “As vacinas contra gripe, COVID-19, pneumonia e meningite são fundamentais para reduzir a gravidade dessas infecções respiratórias. Além disso, crianças imunodeprimidas ou com doenças crônicas devem receber atenção redobrada.”
A especialista também reforça a importância de medidas aprendidas durante a pandemia, como o uso de máscaras em ambientes fechados, a higiene das mãos e o uso de álcool em gel. “É importante que os pais compreendam a necessidade de manter os filhos em casa caso apresentem sintomas gripais. Mandar uma criança gripada para a escola não só compromete a recuperação dela, como também contribui para a disseminação do vírus.”
Outro ponto destacado foi a higiene nasal, que muitas vezes é negligenciada. “A lavagem nasal é um hábito que deveria fazer parte da nossa rotina, assim como escovar os dentes. Se não mantivermos o nariz limpo, acumulamos vírus e impurezas que podem levar a infecções mais graves. Comparo sempre isso com a saúde bucal: se não cuidamos, teremos problemas, e com o nariz é a mesma coisa,” explicou a Dra. Raquel.
Apesar da preocupação com o HMPV, os testes específicos para identificar esse vírus não são amplamente indicados. “Exames como o painel viral são realizados apenas em contextos epidemiológicos, ou seja, para acompanhar surtos ou casos graves em centros especializados,” esclarece a Dra. Raquel. “Para a maioria dos pacientes, não é necessário fazer exames específicos para HMPV. O foco deve estar em tratar os sintomas e prevenir a disseminação.”
Ela também reforça que o conhecimento sobre esses quadros evoluiu muito nos últimos anos. “Hoje entendemos melhor as infecções respiratórias e sabemos que nem todas as complicações, como sinusite ou pneumonia, são bacterianas. Isso permite um manejo mais adequado e evita tratamentos desnecessários.”
O metapneumovírus não é uma ameaça nova, mas sua maior circulação exige atenção. Com vacinação em dia, medidas de higiene adequadas e cuidados simples como evitar aglomerações, é possível reduzir significativamente o impacto desse vírus, especialmente em crianças e idosos.
“A mensagem final é de conscientização,” conclui a Dra. Isabela. “O que aprendemos durante a pandemia ainda é válido. A higiene, a vacinação e a atenção aos sinais de alerta podem fazer toda a diferença, especialmente em tempos de maior circulação de vírus respiratórios.”