Procissão, música e fé: tradicional Festa de São José, no Rodeadouro, reúne centenas de fiéis e turistas

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Na imensidão silenciosa das águas do Velho Chico, cinco barcos avançavam pelo rio rompendo a quietude das ondas com cânticos, palmas e batuques. A procissão fluvial em homenagem a São José, celebrada todo ano no dia 19 de março em Juazeiro, contou com o apoio da Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes (Seculte), e reuniu centenas de fiéis e turistas para viverem a tradição que une fé e história popular.

Em um dos barcos, mais de 90 fiéis entoavam em uníssono o hino do santo. “Da Virgem Maria, vós sois santo esposo”, cantavam. Em outro, onde vão devotos integrantes do Samba de Véio do Rodeadouro, o compasso dos tambores marcou a dança e as vozes alegres que celebravam a sua cultura secular.

A procissão integra a festa centenária da divindade na comunidade do Rodeadouro, de quem é padroeiro. O dia começou às 5h, com uma caminhada ao alvorecer até o porto, de onde partiram os primeiros barcos rumo à Orla de Juazeiro. Lá, uniram-se a outras embarcações e fiéis, que os aguardavam, retornando ao Rodeadouro em um cortejo ampliado, agora com cinco barcos, duas lanchas da Marinha e motos aquáticas. Todos seguiam a lancha que levava consigo a imagem do santo em um andor.

Para quem estava em terra firme, aguardando a chegada dos devotos e da imagem, o som dos cantos ganhava força à medida em que os barcos se aproximavam. Entre os que circulavam por ali, estava Rice Mota. Emocionada frente à representação do santo, contou que “José” nomeia o seu pai e o seu filho.

 “Sou devota de São José há muito tempo. Eu tenho um verdadeiro carinho, porque ele protege as nossas famílias e ele que ajudou Maria a criar Jesus, não tem importância maior”, disse.

De lá, Rice se despediu da imagem, que seguiu viagem junta às demais lanchas e barcos, de volta ao Rodeadouro. Nesse percurso, com cerca de 15 quilômetros, os devotos puderam navegar suas orações pelas águas do rio São Francisco.

A chegada de volta à comunidade também foi acompanhada de emoção. O andor desceu da lancha e foi carregado nos braços de algumas jovens, com vestimentas de marinheiro, em alusão às águas do Velho Chico. Ali, a procissão seguiu, mas agora como uma caminhada em direção à paróquia. O sol era intenso, mas não intimidava os fiéis. Enquanto os pés pisavam o chão, as vozes louvavam cânticos destemidos e esperançosos.

É o caso de Antônio Laurindo, marinheiro e comunitário do Rodeadouro, que guiou um dos barcos da festa. “Estou com 76 anos e sou devoto desde criança. Eu peço que São José proteja todos e que nos traga um pouco de chuva. A felicidade de ser devoto de São José é saber que ele nunca nos deixa em falta.”, comentou.

Segundo o secretário de Cultura, Targino Gondim, apoiar o evento é importante, já que a festa tem relação íntima com os sertanejos e o plantio. “É um santo que traz a benção e a esperança. Não à toa, se canta ‘plantei meu milho todo na festa de São José’. Por isso, estamos aqui para ajudar, pois vemos uma união cultural, religiosa e turística. Queremos impulsionar esta festa, para que a gente possa trazer pessoas do Brasil e do mundo para este momento”, diz.

Samba e oração

O fim da manhã foi marcado por mensagens de fé destacadas pelo padre Marcos da Silva, organizador da festividade, e por dona Ovídia Izabel de Sena, líder comunitária. Os participantes seguiram, então, para um café da manhã, encerrado com apresentação do Samba de Véio, manifestação cultural tradicional.

Como conta Marlene de Sena Silva, o samba tem origem nas casas de farinha, onde era cantarolado pelos trabalhadores. Ela explica que as cantorias começaram inspiradas nos reisados, tornando-se uma atividade única há mais de 200 anos. “A gente não tem ideia de como começou, mas como dizem nossos antepassados: foi uma cultura negra, uma forma de passar a alegria deles”, diz.

A manifestação cultural se encontra com o festejo a São José por sua característica de celebração. Conta-se que, historicamente, o Samba de Véio costumava ser convidado para animar todas as festividades, unindo a comunidade. “É uma mistura de religiões e culturas. A gente pega algumas coisas da celebração de São José e coloca no samba… por aí vai. Assim fomos misturando”, explica.

Ecologia

Este ano, o tema da Festa foi “Caminhando com São José na estrada da Esperança, vivendo a Fraternidade e a Ecologia Integrais”. Com apoio da Seculte e da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), a comemoração teve início um dia antes, quando aconteceu um mutirão de limpeza e educação ambiental com as crianças da comunidade.

Segundo o secretário de meio ambiente, Cláudio Leal, o evento, bem como a procissão fluvial de São José, tem grande significado, ao unir cultura, religião e compromisso com a preservação do meio ambiente.

“Este ano, ao destacar a fraternidade e a ecologia e a valorização do Velho Chico, o evento reafirma nosso dever de proteger esse rio tão vital para a nossa história, economia e biodiversidade”, diz.

Para a festividade, também foram realizados mutirões de limpeza e capina promovidos pela Secretaria de Serviços Públicos (Sesp), além de melhorias na iluminação pública.

Ascom PMJ