Na manhã desta terça-feira (29), o programa Nossa Voz, da rádio Grande Rio FM, recebeu o padre Luciano Lima, figura conhecida na região de Santa Maria da Boa Vista por sua atuação firme em defesa dos pequenos agricultores do Sistema Itaparica. Em tom de apelo e indignação, o sacerdote expôs o estado de abandono do Projeto Fulgêncio — um dos principais polos produtores de banana e frutas do país — denunciando problemas graves de infraestrutura, segurança, saúde e saneamento.
“Dezembro passado estive com alguns colegas produtores lá do Projeto Brígida e do Fulgêncio. O que vimos foi um descaso alarmante. O sistema Itaparica é federal, mas tem também problemas nos níveis estadual e municipal. O que mais dói é ver que todos parecem ter se unido para não fazer nada”, afirmou o padre, com tom crítico, mas sem perder o espírito construtivo.
O religioso detalhou a precariedade das estradas que cortam as 47 agrovilas da região, dificultando o escoamento da produção e colocando em risco a vida dos moradores. Ele citou episódios trágicos causados por buracos e animais soltos nas vias, como o acidente que vitimou três irmãs de uma mesma família no ano passado e a morte recente de um agricultor, conhecido como Tonhão.
“Se vocês forem de Urimamã até a fronteira com Parnamirim, não conseguem andar. A PE é totalmente destruída. Nem tapa-buraco fizeram. O mato já está invadindo as estradas. Isso sem contar com os animais soltos, que já tiraram vidas demais por ali”, denunciou o padre Luciano, pedindo que a imprensa vá até o local para registrar a situação.
Além das estradas, o líder religioso destacou a falta de limpeza pública e iluminação nas vilas do Projeto Fulgêncio, além de um grave problema de insegurança, com registros de feminicídios, tráfico de drogas e desaparecimentos.
“Cheguei no Fulgêncio em outubro de 2020 e até hoje não vi um caminhão de lixo passar para recolher nada. A iluminação pública é falha, a segurança é inexistente. O povo tá à mercê. E tem gente que ainda acha que isso é politicagem. Não é. É dor real. São meus paroquianos sofrendo”, desabafou.
O padre também criticou a ausência de respostas concretas após uma audiência pública realizada em janeiro, que contou com presença do prefeito, do vice e de vereadores.
“De lá para cá, nada foi feito. Pelo amor de Deus! Essa semana, um assessor disse que receberam verba para as estradas. Aí eu pergunto: e agora, quando vai começar?”, questionou, com frustração.
O religioso enfatizou ainda que outros padres da região — Carlos Augusto, Alexandre e Mateus — também enfrentam dificuldades em suas paróquias, com carros danificados por causa das estradas e apoio limitado por parte do poder público.
“Nós somos quatro padres cuidando de três paróquias. A situação é crítica em todas elas. Já tivemos carros quebrados, acidentes evitáveis e, principalmente, muita omissão. A governadora nunca apareceu, apesar dos convites. O governo federal a gente já sabe como trata isso. E o municipal, apesar de algumas ações pontuais, também está em dívida com a população”, concluiu.
Padre Luciano ainda reforçou o chamado à própria comunidade agrícola para que se manifeste e participe das cobranças, sem esperar apenas pela liderança religiosa.
“Minha voz hoje representa a de muitos que não têm microfone. Mas também é preciso que os agricultores do Fulgêncio botem a boca no trombone. Não deixem para depender só do padre. Essa luta é de todos nós”, finalizou.