Rejeitos de Brumadinho chegaram ao Rio São Francisco, diz Fundaj

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(foto: divulgação/CVP)

Depois do estudo feito pela A Organização Não Governamental (ONG) SOS Mata Atlântica, agora é a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) que divulga pesquisa que afirma: o Rio São Francisco foi atingido pelos rejeitos da Barragem do Feijão, da Vale, em Brumadinho, em Minas Gerais. A informação foi divulgada em nota técnica, durante o Seminário Pós-Brumadinho, finalizado ontem (29).

A nota técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF), que concluiu que os rejeitos não atingiram o reservatório da Hidrelétrica de Três Marias, na Região Noroeste de Minas e Gerais, e nem o Rio São Francisco.

De acordo com Neison Freire, pesquisador com pós-doutorado em risco de desastres naturais, a constatação foi feita após meses de análise, por meio de um método desenvolvido pela Fundaj, usando satélites para medir a energia eletromagnética do Rio Paraopeba, principal atingido pelo desastre. Os pesquisadores também realizaram trabalho de campo e coletaram amostras nos leitos dos rios.

“Quando a lama estava em terra, conseguíamos acompanhar a movimentação por satélite. Quando ela entrou em contato com o Rio Paraopeba, o que ocorreu dois dias depois do desastre, a característica mudou, porque ela se diluiu. A partir daí, passamos a medir, também por satélite, a energia eletromagnética do rio contaminado, que é completamente diferente dele limpo”, afirma.

De acordo com a nota técnica emitida pela Fundaj, a pluma de contaminação por metais pesados chegou ao São Francisco desde, ao menos, o dia 12 de março, por meio da hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais. “Trabalhamos com uma água argilosa, que é um marcador de metais pesados. Apesar disso, a Vale não informa de quais componentes essa lama é composta. Nós fizemos as medições do rio antes da chegada do material contaminante e, agora, a leitura é muito diferente. Ao todo, mais de 500 municípios fazem parte da bacia do Rio São Francisco, que muitas vezes é usado para consumo humano”, diz.

Ainda segundo Neison, para calcular a chegada dos rejeitos os pesquisadores se basearam numa velocidade de avanço da contaminação de 7,14 quilômetros por dia, considerando a chegada da lama à massa d’água que chega ao leito principal do Velho Chico.

Impactos

Segundo Karina Guedes, uma das coordenadoras do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), as consequências do desastre de Brumadinho se estendem para além dos atingidos diretamente pela lama de rejeitos da Vale. “Atingidos somos todos. Desde quem perdeu seu ente querido a quem, de alguma forma, tem contato com a foz dos rios. É todo um sistema de vida afetado nas bacias dos rios. É preciso levantar os impactos do desastre, porque já temos dois meses e ninguém punido, estamos sem grandes soluções”, diz.

Ainda segundo Karina, uma solução a ser adotada no caso do Rio São Francisco é a análise constante da água. “Essa análise precisa ser feita de forma independente. Outro ponto é o cadastramento das famílias atingidas por esse crime. A sociedade precisa se organizar para cobrar minimamente que os criminosos paguem”, declara. (com informações G1)