Durante entrevista concedida nesta quinta-feira (10), o vereador Ronaldo Silva comentou sua atuação na Câmara Municipal de Petrolina e fez duras críticas à atual gestão municipal, especialmente no que diz respeito à aplicação de recursos públicos, à transparência das decisões e à estrutura de saúde oferecida à população. Em recesso desde junho, a Câmara se prepara para retornar em agosto com a entrega da reforma da sede.
“A gente está em recesso, mas o trabalho não parou. A previsão é que a Câmara seja reaberta no dia 7 de agosto. O presidente Osório tem se empenhado bastante nessa reforma. Ontem mesmo, um dos nossos assessores já esteve no nosso gabinete organizando a estrutura. Ainda tem móveis sendo retirados do prédio antigo. Mesmo com o recesso, continuo acompanhando de perto temas importantes para Petrolina, como saúde, infraestrutura, gastos da prefeitura e decisões que impactam diretamente a população.”
Remanejamento de R$ 31 milhões e silêncio no plenário
Ronaldo denunciou o remanejamento de verbas da educação para custear as festividades juninas da cidade, algo que, segundo ele, foi aprovado sem debate adequado.
“O que aconteceu foi o seguinte: o prefeito fez um remanejamento de R$ 31 milhões, e desse total, R$ 23 milhões saíram diretamente da educação para serem colocados na realização do São João. Isso foi aprovado pela maioria da Câmara. Quando eu tentei me posicionar, houve uma tentativa clara de me calar, de impedir que eu falasse. Foi por isso que bati na mesa, sim. Porque eu estava brigando pelo que é certo. A população de Petrolina precisa saber para onde vai cada centavo. Não podemos tirar dinheiro da educação, que é base de tudo, para gastar com festa.”
Assistência obstétrica em debate: críticas à Casa de Parto
Durante a entrevista, o vereador reforçou as críticas que já havia feito na audiência pública do Ministério Público de Pernambuco, que discutiu a assistência obstétrica em Petrolina. Para ele, a Casa de Parto Humanizada construída no município é subutilizada e falha em atender as mulheres que mais precisam.
“A ideia de uma Casa de Parto humanizada é linda na teoria. A propaganda feita pela prefeitura foi bonita. Mas a realidade é outra. Hoje, mal chegam a nascer 20 crianças por mês naquele local. Isso não atende nem de longe à demanda da cidade. E por que não atende? Porque a mulher só pode dar à luz ali se tiver feito o pré-natal completo, desde o primeiro até o nono mês, dentro da rede municipal. Se tiver qualquer alteração, como uma leve alta na pressão, ela é imediatamente encaminhada para o Hospital Dom Malan, que já está sobrecarregado. A Casa de Parto, que custou dinheiro do povo, deveria ser um alívio para o sistema, mas virou só vitrine de propaganda.”
Ele ainda destacou “Petrolina não tem uma maternidade municipal. Isso é inaceitável. Dormentes tem, Lagoa Grande tem, Santa Maria tem. E Petrolina, com toda a sua estrutura, oferece uma casa de parto limitada. A promotoria já deu um prazo de 45 dias para a prefeitura contratar serviços privados. Enquanto isso, a Casa de Parto deveria estar realizando entre 75 e 150 partos por mês, no mínimo. É isso que esperam de um equipamento público. Mas, infelizmente, a estrutura que temos hoje não dá conta.”
Outro ponto levantado pelo vereador foi a forma como o Hospital Eduardo Campos funciona. Para ele, o modelo de atendimento e o horário de funcionamento são incompatíveis com a realidade da cidade.
“É uma situação que, sinceramente, me espanta. O hospital municipal abre as portas às 7 da manhã e fecha às 5 da tarde, como se fosse um prédio administrativo. Isso não existe. A saúde não tem hora para acontecer. Além disso, se vende para a população a ideia de que ali é um hospital, mas na prática aquilo funciona como uma policlínica melhorada. Estão até realizando cirurgia de catarata ali, aproveitando salas novas, e tudo vira vitrine de gestão. Mas quando a população precisa de um pronto-atendimento real, de um serviço completo, não encontra.”
Empréstimos e cargos comissionados: cobrança por transparência
Ronaldo Silva voltou a criticar a aprovação, na Câmara, de um empréstimo de R$ 800 milhões solicitado pela prefeitura. Segundo ele, os vereadores da oposição não receberam informações claras sobre como os recursos seriam aplicados.
“Um empréstimo desse valor, quase R$ 1 bilhão, não pode ser aprovado sem clareza. Eu vi alguns vereadores da base dizendo que os juros seriam baixos, que o investimento ia ser feito em saúde, educação, infraestrutura e saneamento. Mas o projeto não traz isso detalhado. Não diz quais bairros vão receber obras, quantas ruas serão calçadas, onde vai ter escola nova. E mais: falam em investir em saneamento, mas como isso vai acontecer se a Compesa está prestes a ser concedida à iniciativa privada? Vamos colocar dinheiro público numa empresa que pode deixar de operar aqui em poucos meses? Isso não faz sentido.”
Segundo ele as críticas também abrange aos setores de cargos “Também critiquei o aumento no número de cargos comissionados. Não é hora de inchar a máquina pública. O foco tem que ser investir com responsabilidade, com foco em resultado. E para isso, a Secretaria de Finanças tem que prestar conta, tem que explicar de forma clara, não apenas para a base aliada, mas para todos os vereadores e principalmente para a população.”
Concessão da Compesa: aposta na cobrança e na eficiência
Sobre a futura concessão do serviço da Compesa em Pernambuco, Ronaldo disse ser favorável, mas com a condição de que a nova empresa seja constantemente cobrada.
“Eu vejo essa concessão como algo positivo, sim, não só para Petrolina, mas para o estado inteiro. A empresa que ganhar vai ter que investir muito, porque a população vai cobrar. E se não prestar um bom serviço, o governo pode e deve retomar. É um contrato de 30 anos, mas isso não significa impunidade. A concessão precisa trazer melhorias reais, e não apenas mudar a placa da empresa.”
Críticas ao deputado Antônio Coelho
Ronaldo também fez críticas à atuação do deputado estadual Antônio Coelho (UB), afirmando que o parlamentar não tem apresentado resultados concretos para Petrolina.
“Eu não tenho nada contra a pessoa do deputado Antônio Coelho. Mas, como representante de Petrolina, ele é zero. Não mostrou a que veio. Deixou a Assembleia para ser secretário de turismo no Recife. Se queria ser secretário, por que não pediu ao prefeito Simão para ser aqui em Petrolina? Seria mais coerente. A verdade é que ele abandonou o mandato e nunca trouxe resultado visível para a cidade. E se alguém tiver uma obra, um projeto que ele tenha conquistado para Petrolina, que me diga. Eu desconheço.”