O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) esteve em Petrolina esta semana para uma série de plenárias e encontros com a categoria. Em pauta, conquistas recentes, como reajustes salariais e progressões na carreira, além de críticas à gestão da Secretaria Estadual de Educação e cobranças por políticas de saúde mental e melhorias estruturais na rede pública.
A presidenta do Sintepe, Ivete Caetano, avaliou os ganhos obtidos em 2025 com a negociação do reajuste salarial que variou entre 6,27% e 8,38% para os professores. Segundo ela, a conquista é estratégica para garantir valorização a longo prazo.
“O reajuste percentual do piso salarial do magistério, de acordo com a lei nacional, na carreira é fundamental. Porque o que tem acontecido nas prefeituras e alguns governos estaduais pelo Brasil afora é que os gestores transformam o piso em teto, quando não dão o reajuste no plano de carreira. Nós somos servidores públicos, passamos em concurso e temos um longo tempo de permanência no serviço. Precisamos de uma carreira que valorize esse tempo. Quando conquistamos o percentual do piso para toda a carreira, podemos afirmar que se trata de uma grande vitória. A qualidade da educação depende da valorização profissional, e isso precisa ser respeitado.”
O Sintepe também firmou acordo para que as progressões da carreira aconteçam em novembro do ano que vem, mas os critérios ainda estão em negociação com o governo estadual.
“Nós vamos constituir uma comissão para definir os critérios da avaliação de desempenho. É claro que os profissionais precisam ser avaliados, mas os parâmetros não podem dar margem a assédio moral ou injustiças. Queremos critérios corretos e justos, que reconheçam de fato o trabalho realizado e não criem brechas para perseguições. Essa é uma condição essencial para que o processo seja transparente e digno.”
Entre as críticas levantadas pelo sindicato estão a falta de manutenção de escolas, a merenda insuficiente e atrasos no fornecimento de kits escolares. Ivete destacou que, no Sertão, as condições climáticas tornaram a situação ainda mais grave.
“Recebemos relatos de professores passando mal em sala de aula por conta do calor, além de estudantes que chegaram a desmaiar em função das altas temperaturas. O governo se comprometeu a climatizar todas as salas de aula até o fim do mandato. Se isso for cumprido, será uma grande vitória. Recursos existem, inclusive vindos do Fundef, e nós vamos acompanhar para que a promessa não fique só no papel.
Outro ponto criticado pelo sindicato foi a instabilidade na gestão da Secretaria Estadual de Educação, que já teve três mudanças de comando desde o início do atual governo. Para o Sintepe, a troca constante compromete a execução de políticas de longo prazo.
“Quando falamos em descontinuidade, estamos falando de problemas concretos: a merenda não chega com qualidade porque não houve planejamento no ano anterior; o fardamento atrasa porque não foi licitado em tempo; os kits chegam incompletos. Cada troca de secretário significa um eterno recomeço. E a educação não pode estar recomeçando a cada mês ou a cada semestre, porque isso compromete a qualidade do ensino e prejudica alunos e profissionais.”
A ausência de uma política efetiva de saúde mental foi classificada como um dos maiores problemas da rede. O Sintepe defende a contratação permanente de psicólogos e programas contínuos de acompanhamento para servidores e estudantes.
“Nossa categoria está enraivecida, adoecida. Isso se agravou com a pandemia e também com a pressão das redes sociais. Pedimos ao governo que fizesse uma pesquisa sobre as condições de saúde mental dos profissionais, mas nada foi realizado. Chegaram a contratar psicólogos temporários, mas isso não resolve. Saúde mental precisa de acompanhamento permanente, não pode depender de contratos que terminam amanhã. É uma das falhas mais graves da atual gestão.”
Durante a visita, o sindicato realizou duas plenárias lotadas, que debateram campanha salarial, precatórios do Fundef e direitos dos professores temporários.
O dirigente Robson Nascimento destacou a mobilização e a participação ativa da categoria:
“Ontem tivemos duas plenárias muito importantes. Pela manhã, o auditório do Sintepe ficou lotado para discutir a campanha salarial, os precatórios do Fundef e nossas vitórias na Justiça. À tarde, o encontro foi com professores contratados temporariamente, uma luta histórica do sindicato. Conseguimos garantir o pagamento do piso a partir de 2021, mas agora buscamos na Justiça o direito ao retroativo desde 2015. Estamos muito otimistas. A categoria reconhece a luta do Sintepe, e isso nos fortalece. Seguiremos firmes para que cada direito conquistado se transforme em realidade para os trabalhadores da educação.”
A comitiva também visitou a unidade do Sassepe (Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores de Pernambuco) em Petrolina, cuja reforma está paralisada há 60 dias. O sindicato cobra explicações do governo e mais investimentos na rede de atendimento.
“O Sassepe é sustentado pelos próprios servidores, que pagam mensalmente e até no décimo terceiro. O dinheiro é nosso, mas não temos retorno em qualidade. No interior, a situação é ainda pior, porque só Recife tem hospital do servidor. Aqui, dependemos de rede credenciada e enfrentamos atrasos, falta de médicos e transparência. Não queremos favores, queremos respeito. Se o servidor paga, precisa receber o atendimento de direito.”
Na pauta de reivindicações do Sintepe estão a implementação das progressões em 2026, a climatização das escolas, a valorização dos temporários, a criação de políticas de saúde mental e a reestruturação do Sassepe.
“O sindicato vai continuar cobrando para que as promessas se tornem realidade. A sociedade exige muito da nossa categoria, e com razão. Mas, para entregar uma educação de qualidade, precisamos de condições de trabalho dignas, de valorização e de planejamento. Essa luta é de todos que acreditam que a escola pública pode e deve ser melhor”, concluiu Ivete Caetano.