O Nossa Voz desta quarta-feira (07) entrevistou o professor e pesquisador da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), Jackson Guedes, sobre o bloqueio de recursos que compromete a continuidade de programas de pesquisa em mestrado e serviços importantes das universidades.
“Tem alunos em situação de vulnerabilidade social, que dependem dessa bolsa para se manter na universidade, dependem dessa bolsa para ter alimentação no restaurante universitário, a gente não sabe ainda qual é o impacto disso nas contas da universidade, e quais serviços serão descontinuados”, disse em referência à gestão da Univasf.
“Teve esse bloqueio desde o dia 1º de dezembro, nós já estamos no dia 7 e até agora a gestão Pró Tempore da universidade, não se manifestou, inclusive ontem, no Conselho de Curadores, através do seu presidente, o professor Marcelo Silva de Souza Ribeiro, divulgou uma nota à comunidade acadêmica da universidade, cobrando realmente que a gestão Pró Tempore apresente o plano de contingência. Houve uma solicitação em outubro de 2022, já vem de um certo tempo aí que os conselheiros vêm solicitando essas informações à gestão da universidade”, afirmou.
“A gente já vem enfrentando alguns problemas de ordem estrutural, de manutenção dos prédios, manutenção de equipamentos, falta de insumos pra gente pode fazer pesquisa, dar uma aula prática para os alunos, esses cortes impactam diretamente nas atividades de ensino, pesquisa, que a gente tem prestado para a população”, destacou.
Em novembro deste ano, foram realizadas mobilizações na Univasf em virtude do impacto das atividades dos terceirizados. “Havia a previsão de demissão de 300 terceirizados da universidade, pessoal que trabalha no administrativo. (…) Encerrou-se o contrato desse pessoal, não foi renovado a tempo, e a universidade correu atrás para fazer um contrato emergencial, então o pessoal voltou ao trabalho, mas não ficou claro pra gente como é que foi feito esse acordo”, questionou Guedes.
“Mais uma vez a gente está se antecipando, porque naquela época a gente teve a descontinuidade do serviço, passamos quatro a cinco dias sem esse apoio administrativo, (…) a universidade estava um caos, o pessoal da limpeza, pessoal terceirizado, fazendo o serviço de apoio administrativo, de entrega do material de sala de aula, de ligar ar-condicionado, que a pessoa não estava treinada pra fazer aquilo dali. A gente chegou a presenciar, por exemplo, o pessoal da segurança trabalhando de porteiro, abrindo laboratório, abrindo porta, entregando chave, então a gente não quer que isso se repita novamente”, reforçou o professor.
O pesquisador destacou ainda os bloqueios orçamentários na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), que impacta 200 mil bolsistas de pós-graduação. O pagamento deveria ter sido feito até hoje (7). “Eu consultei vários alunos meus pra saber se realmente o dinheiro tinha entrado na conta, se tinha sido feito o pagamento, e não entrou.(…) Isso impacta em tudo na vida dos estudantes, muitos são de fora, muitos dependem dessa bolsa pra se manter aqui na região, pra pagar o aluguel, pra pagar a sua despesa de lazer, diversão, arte, cultura, tudo isso que a gente quer que a população tenha”, destacou.
“Só piora a nossa situação, não valoriza a educação, o ensino, a pesquisa, a extensão. (…) As universidades públicas são responsáveis hoje por 95% da pesquisa, da produção científica, ”, avalia Guedes sobre bloqueio orçamentário.
“Esse corte do governo federal impacta nas atividades, mas também impacta na vida das pessoas, e é isso que a gente tá trazendo para a sociedade, pra gente se unir, para que a gente tenha mais força pra poder sair dessa situação”, defendeu.