Sobre atos de 07 de setembro, historiador reforça: “Invistam no processo de formação das pessoas”

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O dia 07 de setembro sempre trouxe o patriotismo à tona, inclusive demonstrada nos desfiles cívico-militares realizados ao longo dos anos nos mais de 5,5 mil municípios existentes no território brasileiro. Os eventos oficiais foram cancelados em 2020 por causa da pandemia da covid, entretanto, em 2021 as pessoas voltaram às ruas em meio a um clima de acirramento entre ideologias e até entre os poderes existentes no país.

Numa leitura histórica para o entendimento da atualidade, o historiador, Moisés Almeida, em entrevista ao Nossa Voz, destacou a importância da data de hoje. Para Almeida, a celebração da independência do Brasil é um símbolo da identidade nacional. Entretanto, é necessário avançar na formação cultural, aumentando a bagagem de conhecimentos da população brasileira, provendo assim a capacidade para a verdadeira interpretação dos fatos que nos cercam.

Por que celebrar o 07 de setembro?

“É uma data importante porque marca um dos fatos históricos para que o Brasil pudesse ficar independente. Historicamente falando, nós no Brasil temos três datas cívicas: o 21 de abril [Dia de Tiradentes], 15 de novembro [Proclamação da República] e o 07 de setembro [Dia da Independência]. Esse 07 de setembro foi construído dentro de fatos históricos que já vinham acontecendo não apenas na América. Na América tivemos a independência dos Estados Unidos em 1776, a Revolução Francesa e depois, a partir de 1811, as colônias pertencentes a Portugal e Espanha foram ficando independentes. Então, de 1811 a 1825, ocorreram as independências das colônias desta parte aqui da América. E o Brasil foi em 1822. Foi um passo importante, apesar de não totalmente decisivo, em função do regime político continuar praticamente o mesmo. Eu diria que, se nós tivemos uma grande mudança no Brasil foi na proclamação da república em 1889. Mas não deixa de ser uma data simbólica, porque ao longo dessa história recente, o 07 de setembro serviu muito e ainda serve muito para essa relação que nós temos com a ideia de independência e a ideia de patriotismo. Então é uma importante, é preciso ser lembrada e já era lembrada ao longo do tempo com as paradas militares, com os desfiles que as escolas faziam e bem recentemente também, incluindo neste dia, através da Igreja Católica, do grupo pertencente à Teologia da Libertação, o famoso Grito dos Excluídos que tradicionalmente é realizado hoje”.

Como o senhor analisa o acirramento entre o presidente Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal?

“Na verdade o que falta para a gente, para a população, é um pouco mais de leitura. O que significa, na verdade, um país ter três poderes, qual é a função por exemplo de um Legislativo, qual é a função de um Judiciário, qual é a função do Executivo e aí tem a figura do presidente da república. Como nós temos pouca informação, a população é desinformada infelizmente, isso é um processo longo e histórico, às vezes as tomadas de decisões dos poderes tendem por não serem entendidas pela população. E os grupos políticos de A, de B e de C sabem disso e, infelizmente, utilizam de determinadas narrativas que terminam convencendo e se configurando como verdade. Isso é um grande problema. Nós sabemos que, infelizmente, 2022 se antecipou muito e nós temos um debate muito mais em função de uma eleição que vai ocorrer no ano que vem. E os marqueteiros vão utilizando as suas estratégias, uma delas é produzir pseudo verdades e que parte dessa população, militante, acredita nessa pseudo verdade. O STF não saiu prendendo a torto e a direito para poder produzir, por exemplo, uma espécie de indignação nacional. Meia dúzia de pessoas foram presas. Inclusive, as pessoas não conhecem o tipo de sentença que se dá para a prisão. Então, é preciso que o país avance, e estendo aos governos, para que invistam no processo de formação das pessoas. Infelizmente, a gente não tem visto isso porque sabemos qual é o interesse: é deixar parte dessa população desinformada porque ela termina sendo massa de manobra, seja para A ou para B. E complica muito a situação do país porque existe uma polaridade, se você não é A você não é B. Por exemplo, agora com a apropriação dos símbolos nacionais, da bandeira, da camisa. Isso é muito preocupante porque parece que só é patriota quem está de um lado e na verdade não. Todos nós somos brasileiros. E claro que o presidente, vendo a sua aprovação ser corroída em razão de diversos fatores que aconteceram ao longo do tempo, a sua estratégia é mobilizar sua militância. Então, a estratégia de hoje é eleitoral para que a militância esteja mobilizada em função do apoio ao presidente da república. Aí se cria uma narrativa bem construída porque tem gente, que ao escutar essa narrativa termina embarcando e acreditando”.