SUS incorpora tratamento que substitui cirurgia para pacientes com metástase no fígado; entenda

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Pacientes em tratamento de câncer têm uma boa notícia: a partir de setembro estará disponível no SUS uma cirurgia minimamente invasiva para retirada de tumores secundários no fígado.

Trata-se da ablação, procedimento em que uma agulha é inserida no tumor com o auxílio de equipamentos de tomografia ou ultrassom.

Ao atingir o tumor, com temperatura acima de 60º graus, ela destrói as células cancerígenas. O procedimento está disponível para pacientes de planos de saúde desde maio passado, com a inclusão no rol da Agência Nacional de Saúde (ANS).

A portaria do órgão regulamenta a cobertura obrigatória em casos de metástases hepáticas de câncer colorretal, irressecáveis ou ressecáveis com alto risco cirúrgico, com tamanho até 4 centímetros.

“Temos duas boas notícias aos pacientes. Uma é a inclusão do procedimento no SUS. A outra é a divulgação de um novo estudo que mostra que a ablação tem custo menor, menor morbidade e menos tempo de internação do que a cirurgia convencional”, diz o médico Denis Szejnfeld, presidente da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (Sobrice).

A tecnologia existe há duas décadas, mas faltavam estudos científicos que comprovassem que ela deve ser aplicada em casos de metástase no fígado. Em geral, é usada em caso de câncer primário no fígado e no rim. Apresentado no último encontro da ASCO (American Society for Clinical Oncology), o estudo chamado Collision testou a técnica comparando resultados de 299 pacientes com até 10 nódulos de até 3 centímetros – 148 submetidos a cirurgia convencional e 147 tratados com ablação.

O resultado comprovou que a ablação apresenta menor mortalidade (zero contra 2,1% na cirurgia), menos tempo de hospitalização (24 horas de internação, contra quatro dias na cirurgia) e menor risco de infecções pós-operatórias. “O estudo mostrou que eventos adversos foram maiores na cirurgia convencional do que na ablação”, diz o médico.

Szejnfeld explica que a termoablação não necessita ser feita em centro cirúrgicos. O procedimento não precisa de anestesia geral e é feito na mesma sala hospitalar onde ficam os aparelhos de tomografia, equipamento usado para direcionar a agulha. Ao ser submetido à alta temperatura, as células cancerígenas morrem.

A técnica pode ser usada também em metástases no pulmão, rim, tiroide e útero, mas não há estudos comparativos (randomizados) para todos os casos, como o que acaba de validar o uso para o câncer colorretal, que é o segundo mais comum no Brasil. “Na ciência, o conhecimento vai sendo construído. Nem todos os tipos de câncer tem estudo com força estatística inquestionável, como esse que tratou de metástases do câncer colorretal” explica Szejnfeld.

O câncer colorretal acomete o intestino grosso (cólon) e o reto e sua incidência na população brasileira fica atrás apenas do câncer de mama nas mulheres e de próstata nos homens. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) registrou nos últimos anos aumento na incidência entre a população mais jovem, na faixa dos 20 aos 49 anos. Entre 1990 e 2019 a mortalidade por câncer colorretal cresceu 20,5% na América Latina.

A Sobrice espera que seja publicada nos próximos dias a portaria que regulamenta o procedimento incluindo os equipamentos necessários para que o procedimento seja feito. No caso, é a agulha, uma vez que a maioria dos hospitais têm equipamentos de tomografia.

“Creio que o fato dos custos do procedimento serem menores ajudou a decisão de incorporá-lo ao SUS. Não precisa de sala cirúrgica e o aparelho de tomografia é um equipamento presente na maioria dos hospitais”, diz Szejnfeld.

A Sobrice espera que a compatibilização da tabela do SUS para o procedimento seja publicada em portaria pelo Ministério da Saúde nas próximas semanas.

O Ministério da Saúde informou em nota que a portaria para inserção do procedimento de ablação na tabela do SUS está em fase de finalização e será divulgada dentro do prazo, que vence no fim de agosto. Atualmente, segundo o Ministério, um sistema de tratamento por radiofrequência, com uso de agulhas, é adotado por hospitais da rede de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia, e é feito por indicação médica, geralmente em casos de idosos que não podem ser submetidos a cirurgia convencional. No ano passado, foram realizados 158 procedimentos deste tipo para câncer primário hepático.

Fonte: Folha de Pernambuco