Auxiliares e técnicos de enfermagem da rede municipal de Petrolina iniciaram, na segunda-feira (12), uma paralisação de 48 horas. A categoria reivindica melhorias nas condições de trabalho, reposição salarial, pagamento de gratificações congeladas e abertura de concurso público. A decisão foi tomada em assembleia convocada pelo sindicato da categoria, que ameaça deflagrar uma greve por tempo indeterminado caso não haja avanços nas negociações com a gestão municipal.
Para detalhar os motivos do movimento e as expectativas da categoria, o vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Pernambuco (SATENPE), Gilberto Flávio, conversou com a reportagem.
“Na verdade, quando a categoria decide suspender suas atividades é porque chegou ao limite de esperar uma resposta concreta da gestão municipal e da Secretaria de Saúde. As respostas que recebemos até agora não foram concretas. Nos ouviram quando apresentamos a pauta, que é importante para que possamos assistir os munícipes de Petrolina de forma segura e com a qualidade que eles têm direito. Mas a gestão ainda não respondeu, nem sinalizou se vai dar um retorno positivo e concreto”, afirmou.
Gilberto destaca que o principal ponto da pauta é a melhoria nas condições de trabalho. “Nós somos uma categoria regulamentada por lei. Quando cometemos algum equívoco em um procedimento, podemos responder legalmente por isso. Muitas vezes, a falta de condições mínimas de trabalho induz esses profissionais ao erro. Nós precisamos transferir essa responsabilidade para quem de direito, porque não se pode exigir excelência sem estrutura adequada.”
Sobre a realidade nas unidades, o sindicalista foi enfático. “Algumas unidades sequer teriam condições de funcionar como unidade de saúde, essa é a verdade. A secretária de Saúde tem ciência disso. O próprio secretário já pontuou que busca soluções, mas é preciso uma resposta mais célere, uma vontade política mais determinada para resolver essas questões.”
Entre as reivindicações está ainda a realização de concurso público. “O concurso é a forma mais justa de ingresso no serviço público e garante profissionais mais qualificados para atender à população. Também reivindicamos a atualização de gratificações que estão congeladas há décadas, sem qualquer tipo de reajuste. Isso impacta diretamente na remuneração dos trabalhadores.”
O pagamento da insalubridade em grau máximo também está na pauta do movimento. “A categoria está exposta diariamente a agentes químicos, doenças infecciosas, riscos físicos e biológicos. Por isso, solicitamos que a Secretaria analise com seriedade a possibilidade de pagar o adicional de insalubridade no grau máximo.”
Gilberto aproveitou para fazer um apelo à população. “Gostaríamos que a população de Petrolina fosse empática, entendesse as reivindicações desses trabalhadores. Porque, neste momento, os atendimentos básicos — como vacina, curativos, aferição de glicose e pressão arterial — estão suspensos. E isso não é porque queremos parar. Fomos formados para cuidar das pessoas, mas quando se esgotam todas as possibilidades de negociação, infelizmente precisamos ir às ruas para chamar atenção das autoridades.”
Segundo o vice-presidente do sindicato, a precariedade no sistema também envolve falta de insumos, equipamentos danificados e até problemas estruturais nas unidades. “Temos espaços com mofo, infiltrações, presença de insetos e até roedores. Isso ocorre em várias cidades, não só aqui, mas é inadmissível. Falta também dimensionamento correto de pessoal. O número de profissionais é insuficiente para a demanda existente. Isso compromete a qualidade do serviço.”
Ele criticou ainda a falta de prioridade dada à saúde pública fora do período eleitoral. “Infelizmente, a saúde só vira prioridade durante campanhas. Depois, gestores não dão a devida importância à saúde dos seus munícipes. Isso se repete em vários municípios.”
De acordo com Gilberto, após a paralisação, uma nova assembleia será realizada para avaliar os próximos passos. “Existe o sentimento na categoria de avançar para uma greve por tempo indeterminado, caso não haja uma resposta satisfatória. Não queremos isso. Está nas mãos da Secretaria de Saúde evitar essa greve. Mas a categoria está disposta a continuar lutando até que suas reivindicações sejam atendidas.”
Resposta da gestão
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Petrolina afirmou que mantém o compromisso com o diálogo permanente com os técnicos de enfermagem. A pasta informou que já está agendada uma nova reunião para discutir as propostas de valorização e melhorias nas condições de trabalho dos profissionais. “A gestão reforça que está aberta ao debate construtivo e à busca conjunta por avanços que beneficiem os trabalhadores da saúde e a qualidade do atendimento prestado à população”, conclui o comunicado.