“Tráfico de drogas é principal causa dos homicídios no país e em Petrolina”, afirma secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho

0

O município polo do Sertão pernambucano vive um momento delicado na segurança pública. Só entre janeiro e julho de 2025, Petrolina registrou 112 homicídios, um número que supera os 106 assassinatos contabilizados no mesmo período de 2024. A maioria dos crimes apresenta indícios de ligação com o tráfico de drogas, o que reforça a sensação de insegurança entre moradores, principalmente após uma sequência de execuções, incluindo jovens.

Diante desse cenário, o Governo de Pernambuco lançou o programa Juntos pela Segurança e, nesta quinta-feira (7), iniciou a Operação Nordeste Integrado, que reúne forças policiais de Pernambuco e de outros sete estados nordestinos. A ação prevê cumprimento de mandados judiciais, bloqueios em rodovias e combate ao crime organizado em áreas de divisa, como a fronteira entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

Para compreender os detalhes da operação e as estratégias do governo para conter a escalada da violência na região, o Nossa Voz conversou com o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho. Ele falou com exclusividade sobre os desafios, os resultados preliminares e as ações futuras.

Alessandro confirmou o aumento dos homicídios em Petrolina neste ano e explicou o impacto da proximidade com Juazeiro, cidade baiana que apresenta uma taxa de homicídios quase o dobro da pernambucana.

“São 112 homicídios cometidos em Petrolina até agora, o ano passado foram 106 no mesmo período, são seis a mais. Há um pequeno aumento, mas os números são altos. Agora, o que acontece? Nós temos uma influência da criminalidade da Bahia, como a Bahia também tem uma influência dos criminosos aqui de Petrolina. Em 2024, a taxa de homicídios em Petrolina fechou em 40 homicídios por 100 mil habitantes. Em Juazeiro, que é aqui do outro lado do rio, foi 76 por 100 mil, é quase o dobro.”

Sobre essa dinâmica, o secretário detalhou:

” É uma criminalidade que está recente, nós temos o Estado da Bahia com uma disputa muito forte entre dois grupos, duas facções criminosas do Sudeste do país, e a polícia de Pernambuco está trabalhando para que isso não venha para Pernambuco. E qual é a porta de entrada principal? É Juazeiro e Petrolina, no caso.”

Iniciada na quinta-feira (7), a Operação Nordeste Integrado tem como objetivo integrar as forças policiais para combater o crime organizado na região. Alessandro revelou os dados dos mandados cumpridos nos primeiros dias da ação:

“A operação tem bons resultados até o momento, ela começou ontem, vai até o final do dia de hoje, né? Já foram cumpridos 104 mandados, dos quais 57 de busca e apreensão, 41 de prisão e apreensão de quatro menores, que também estavam praticando crimes.”

O secretário também destacou a importância da cooperação entre os estados para melhorar a efetividade das ações:

“Isso serve também para criar uma integração maior entre as forças policiais. O resultado que estamos vendo ontem e hoje foi precedido de muitas reuniões de integração e interação entre as forças policiais dos estados, e isso vai render frutos daqui em diante, né? Porque você tem uma comunicação que flui com mais facilidade, e isso vai significar a prisão de criminosos que atuam tentando se proteger pela divisa, cometendo um crime num estado e passando para o estado vizinho. Nós estamos trabalhando de forma muito intensa para que isso não ocorra ou que se reduza ao máximo possível.”

Apesar da alta em Petrolina, Pernambuco tem apresentado uma redução geral dos homicídios, completando 15 meses consecutivos de queda. Segundo Alessandro:

“O Estado de Pernambuco hoje vive 15 meses consecutivos de redução dos homicídios. Os números de homicídios mês a mês, então o mês de julho, comparado com o mês de julho do ano passado. Nós temos uma taxa de homicídios hoje no estado de 33,5 homicídios por 100 mil habitantes. A melhor taxa que Pernambuco já teve foi de 33,7 lá em 2013 no Pacto pela Vida, que eu também participei. Eu estava na secretaria.”

Para reforçar a segurança, o governo abriu o maior concurso da história para policiais e bombeiros. Alessandro detalhou as formações em andamento e a expectativa de reforço para a região:

“Nós temos 2.300 policiais militares formando agora em 12 de agosto, terça que vem. Aí tem um intervalo de uns 20 dias e começamos uma nova turma de formação para 2.409 soldados que deverão se formar em fevereiro, final de março, começo de abril. Nós temos 890 policiais civis em formação. A primeira metade se forma em novembro e temos 213 policiais científicos, médicos legistas, peritos. Estamos fazendo uma expansão muito grande na polícia científica no estado, com a construção de novos complexos. Petrolina já tem, mas é uma unidade antiga, e nós construiremos um novo complexo de polícia científica aqui.”

Sobre a distribuição dos novos policiais, o secretário explicou:

“Nós ainda estamos fechando esse estudo, vai haver a escolha de vagas pelos novos e a gente tá dando prioridade porque tem vários policiais que são do interior e querem voltar para sua cidade. Então a prioridade é de quem é mais antigo. Os novos querem vir para sua cidade natal, mas eles devem ser lotados nas cidades da região metropolitana para que os mais antigos que são de Petrolina, de Floresta, da região ou até do Agreste e Zona da Mata possam ir para suas cidades.”

Alessandro confirmou que o tráfico de drogas é a principal causa dos homicídios na cidade:

“Nós temos como pano de fundo dos homicídios em Pernambuco mais de 70% dos homicídios decorrentes do tráfico de drogas, da disputa por território, da cobrança de dívidas, e isso se replica nos outros estados da Federação. Então o tráfico de drogas é o principal motivo dos homicídios praticados no país e em Petrolina também.”

Ele ainda destacou avanços no combate à violência contra as mulheres:

“No ano passado, de janeiro a julho, foram 18 homicídios cometidos contra mulheres em Petrolina, e neste ano foram seis, ou seja, 12 a menos, uma redução de 66%. Mas os casos classificados como feminicídio foram quatro no ano passado e nenhum registrado nos sete primeiros meses deste ano.”

Quanto aos crimes contra o patrimônio, a cidade registrou redução:

“Petrolina teve uma redução de 24,4% nos roubos, com 677 boletins de ocorrência em 2024 e 512 em 2025. O roubo de veículos caiu 19,2%, de 120 para 97 registros. Também houve redução de 14,7% nos roubos de celulares.”

O secretário confirmou que a implantação do sistema de videomonitoramento em Petrolina sofreu atraso:

“Deve ser dada a ordem de serviço ainda esta semana, no mais tardar na semana que vem. Houve um atraso por parte da empresa que ganhou a licitação, o consórcio. Ela tinha que ter entregue as primeiras 200 câmeras até meados de março e ainda está finalizando essa entrega. Procedimentos administrativos foram tomados para punir a empresa, e agora demos a ordem para a região do Agreste esta semana. Na semana que vem, creio que estarei em Petrolina para assinar a ordem, e deve começar a instalação das câmeras daqui.”

Alessandro ressaltou a importância da população registrar os crimes para auxiliar no planejamento policial:

“A primeira coisa que eu digo é que realmente há um incômodo em ir à delegacia, mas você não precisa ir. Pode fazer o registro pela internet, do seu celular, computador de casa ou do trabalho. Sempre houve subnotificação, quem registra e quem não registra, mas isso não altera a leitura sobre aumento ou diminuição da criminalidade. Agora, precisamos do registro. Quem mais incentiva o registro somos nós, policiais, porque sem a ocorrência não enxergamos onde e quando o crime ocorre para planejar o policiamento preventivo e iniciar as investigações.”

Ele também lamentou o uso das redes sociais para denúncias sem registro formal:

“Muitas vezes a pessoa corre para a rede social para dizer que foi assaltada, mas quando procuramos o boletim de ocorrência, não encontramos. Isso é muito comum.”