Vereadores de Petrolina debatem tarifaço de Trump e reforçam o alerta para prejuízos na fruticultura do Vale do São Francisco

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Na volta dos trabalhos do Legislativo Municipal, nesta terça-feira (12), mesmo sem projetos em pauta, os vereadores de Petrolina aproveitaram para discutir a taxação de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros. A medida, que afeta diretamente a manga e a uva produzidas no Vale do São Francisco, foi apontada como ameaça grave à economia e ao emprego na região.

O vereador Ronaldo Silva abriu o debate destacando o empenho do presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho. “Ele tem se empenhado muito nessa questão do tarifaço, que tá prejudicando muito os nossos produtores. Pernambuco é o maior produtor de manga do Brasil e vai ter um prejuízo muito grande. Guilherme foi convocado pelo presidente da República para fazer parte da comissão de negociação com os Estados Unidos”, afirmou.

Aero Cruz reforçou o reconhecimento as ações de Guilherme Coelho e do prefeito de Petrolina, Simão Durando, mas chamou atenção para a situação nas propriedades. “Estamos com a manga na fazenda querendo vender a R$ 1,50 e os compradores não chegam, porque não tem como exportar. Se isso não for resolvido, é um grande número de desemprego aqui na nossa cidade. Se acabar os empregos, o índice de violência vai crescer”, alertou.

O vereador Ronaldo Cancão manifestou solidariedade ao setor. “Dois milhões e meio de toneladas de manga para o mercado americano. Manga não se espera um dia nem uma semana, ela tem as semanas programadas para exportação. Não vamos aceitar de forma alguma nenhum tipo de ingerência de qualquer país na soberania brasileira. Lamento profundamente essa irresponsabilidade que tá levando o país ao caos”, disse.

Dhiego Serra apresentou proposta para minimizar o impacto local. “Solicitamos que a prefeitura indique a inclusão na alimentação escolar de frutas e derivados produzidos no Vale do São Francisco, especialmente a manga de pequenos produtores. A nossa região que exporta 90% de toda manga está sendo impactada e sofrendo muito”, argumentou, criticando a falta de contato direto do presidente Lula com Trump para negociar a questão.

Em resposta, o vereador Gilmar Santos associou o problema a escolhas políticas passadas. “O tarifaço é o resultado daqueles e daquelas que apostaram no ódio, na destruição, na irresponsabilidade. Espero que cada um assuma compromisso com a democracia e com a soberania nacional”, declarou, mas também se solidarizou com os produtores de fruta da região.

Por fim, Rogério Passos lembrou que o problema pode atingir também a produção de uva. “Se essa fruta não for exportada para os Estados Unidos, vai ser colocada no mercado interno e aí o preço desaba. É um tema que toda sociedade de Petrolina precisa se preocupar, porque o que se produz no campo é investido na área urbana”, pontuou.

Apesar das incertezas trazidas pelo tarifaço, os números até julho mostram que o Vale do São Francisco mantém desempenho expressivo nas exportações. No caso da uva, em julho de 2025 foram embarcadas 1.214 toneladas, quase o triplo da média histórica para o mês (422 t) e com alta de 62,3% em relação a 2023 e de 125,65% sobre 2024. No acumulado do ano, já são 11,6 mil toneladas exportadas, gerando US\$ 29,3 milhões em receitas — um crescimento de 82% frente ao mesmo período do ano passado. Pernambuco respondeu por 61,41% do volume nacional e a Bahia por 33,94%.

Quanto à manga, julho registrou exportações recordes de 24 mil toneladas, acima do máximo histórico de 14,2 mil t, e crescimento de 114% sobre o mesmo mês de 2024. No acumulado de 2025, o país enviou 112 mil toneladas ao exterior, alta de 22,4% sobre 2024, com receitas de US\$ 133 milhões — apesar de uma queda de 9,41% no faturamento devido à variação de preços. Pernambuco foi responsável por 58,72% do total exportado e a Bahia por 30,89%, com destaque para a variedade Palmer.

Os dados reforçam a importância estratégica da fruticultura irrigada do Vale para a economia regional e nacional, evidenciando o peso das negociações políticas para garantir o acesso a mercados internacionais e a necessidade de medidas urgentes para o escoamento sustentável dessa produção.