“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Se existe uma categoria que melhor encarna, ou melhor, “encoura”, a célebre frase escrita em 1902 por Euclides da Cunha esta é a dos vaqueiros e vaqueiras. E, na Bahia, Curaçá é o município onde isto se torna palpável em “fé, cultura e tradição”. Expressão disso é a Missa com os Vaqueiros, que chegou neste domingo (08) à sua 71ª edição, inundando a Praça do Teatro Raul Coelho da coragem e fé do homem nordestino.
A Celebração, iniciada por volta das 9h, foi precedida de aboios, músicas e versos, na toada dos heróis do sertão. Enquanto uma multidão aguardava sentada nas arquibancadas, cerca de mil vaqueiros e vaqueiras desfilavam pela cidade, montados em seus cavalos e vestidos de chapéu, perneira, guarda-peito e gibão, sob o olhar orgulhoso do povo curaçaense. Chegado o desfile, iniciou-se a Missa, presidida pelo administrador da Diocese de Juazeiro, Pe. Josemar Mota, e concelebrada pelos padres da Paróquia de Curaçá e religiosos convidados.
Os cantos, acompanhados pela sanfona, manifestavam a religiosidade do nordestino, feita de gestos de fé e devoção. “A Missa com os Vaqueiros é a grande expressão da fé dos nordestinos, da fé dos vaqueiros. Essa fé que nos dá força e coragem de lutar por dias melhores e não desanimar diante dos desafios que não faltam, especialmente na vida do povo sertanejo”, expressou Frei Valdevan Correia, pároco da cidade, conhecido como padre vaqueiro por sua identificação com a cultura local.
Em sua homilia, Pe. Josemar Mota também ressaltou a importância da fé. “Deus nunca nos abandona, por isso nos envia como profetas para anunciar que Ele está conosco, contra tudo o que degrada a nossa dignidade como seres humanos. Tudo o que vai contra a dignidade da pessoa, vai contra o plano de Deus. Somos chamados a ser anunciadores de um Deus que quer vida para todos, especialmente os mais pobres”, disse.
A liturgia foi marcada por momentos de profunda oração, com uma entrada da imagem de Nossa Senhora Aparecida ao som dos búzios dos vaqueiros, as preces feitas com versos de aboio, o evangelho cantado em toada e o ofertório feito apresentando imagens da caatinga. “Para mim a missa do vaqueiro tem um significado muito grande. Essa tradição é um momento de renovação da fé de todos nós. É um momento muito bonito, muito especial. Eu amo demais”, contou a vaqueira Cleonice Gonçalves, 52 anos.
Prestigiando a Celebração Eucarística estavam também diversas autoridades civis, como o Governador do Estado, Jerônimo Rodrigues, o prefeito local, Pedro Oliveira, entre outros. Na fala de Pedro Oliveira, um anseio de que essa manifestação de cultura e fé esteja acima de qualquer divergência partidária: “a Festa e a Missa do Vaqueiro em Curaçá é um patrimônio de todos, que deve ser preservado, independente de que grupo político esteja à frente, porque expressa a força e a coragem do nosso povo”.
História
A Missa com os Vaqueiros, que neste ano completa 71 anos, é considerada o ponto alto da Festa dos Vaqueiros de Curaçá, hoje reconhecida como patrimônio cultural imaterial da Bahia. A festividade teve início no ano de 1953, quando se comemorou o centenário do município. Na década de 1960 iniciou-se a realização da Missa com os Vaqueiros, tradição que permaneceu e cresce a cada ano.
Atualmente, Curaçá é considerada a “Capital dos Vaqueiros” e sua Festa dedicada aos heróis do sertão é tida como a maior festa de vaqueiros do sertão da Bahia, atraindo milhares de participantes e turistas. A Missa é organizada pela Paróquia Bom Jesus da Boa Morte e São Benedito de Curaçá e, neste ano, contou com o apoio cultural do IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), do Governo do Estado da Bahia e da Prefeitura Municipal de Curaçá.
Texto: Pascom Diocese de Juazeiro/BA