“É uma incidência importante entre as mulheres e esse diagnóstico acaba sendo um pouco tardio”, diz ginecologista sobre a endometriose na região

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Cólicas fortes, dores durante a relação sexual e problemas para engravidar: esses são alguns sintomas da endometriose. Essa doença, que atinge uma em cada 10 mulheres, passou a ser bastante comentada na última semana depois que cantora Anitta revelou ter recebido esse diagnóstico após conviver nove anos com os sintomas. Em entrevista ao Nossa Voz desta segunda-feira (18), o médico ginecologista Tarcísio Menezes confirmou que o quadro é subnotificado e com a confirmação geralmente tardia.

“Um tema realmente interessante. Ele é subnotificado, de um modo geral, temos uma população que recebe um diagnóstico tardio. A mulher passa bastante tempo para ter esse diagnóstico, então, o que precisa ser discutido, assim como outros temas, mas precisa se bem discutido, bem debatido para que o diagnóstico seja feito de forma adequada”, explicou.

De acordo com dr, Tarcísio, a endometriose é uma doença na qual o tecido que reveste a parede interna do útero, chamada de endométrio, cresce fora da cavidade uterina. “Ele vai estar, geralmente no abdome e isso, quando você tem o período menstrual, vai provocar um processo inflamatório, pode sangrar dentro desse abdome, pode sangrar, um sangramento pequeno, discreto e isso causa dor associado a algumas alterações anatômicas inflamatórias naquela pelve feminina” relatou o médico.

Além da dor física, a endometriose traz outras complicações as mulheres acometidas pela doença, já que algumas relatam passar pelo sofrimento emocional por não terem seus sintomas reconhecidos pelos médicos ou pelos parceiros. “É uma clínica majoritariamente de dor, dor menstrual intensa, que pode causar o absenteísmo, que é a ausência nas atividades. É aquela mulher que sente dor também durante as relações sexuais, que passa de uma dor que, inicialmente acontece no período menstrual, para uma dor crônica durante todo o mês, não necessariamente apenas no período menstrual e isso leva a complicações, tanto emocionais, quanto depressão, uma mulher que vai ficar com um retraimento social maior, não consegue se relacionar no período de dor e pode comprometer a fertilidade dessa mulher com o tempo”, reforçou.

Diagnóstico

O processo de diagnóstico passa por uma investigação que inicia na conversa com a paciente e segue até a realização de exames de imagem e/ou intervenção cirúrgica para coleta de material. “Inicialmente, é uma suspeita clínica. De antemão, a gente acredita que seja algo subnotificado mesmo de modo geral. Apenas 10% da população tem essa doença, mas a gente duvida que sejam realmente esses 10%, por subnotificado. Uma mulher por volta das 28, 30 anos tem uma maior incidência de diagnóstico e é feito a partir dessa suspeita clínica, dessa dor, essa dismenorreia, que é essa dor durante o ciclo menstrual, e juntando isso, se faz a investigação de exames complementares, chegando até a necessidade de biópsia através de uma cirurgia chamada laparoscopia. Os exames, inicialmente serão a ultrassom transvaginal, partindo dela outras modalidades de exames também podem ser solicitados. Mas é importante ter a avaliação médica, o exame físico, a história clínica desta mulher, para que você possa direcionar para o exame adequado e inciar o tratamento”, listou Menezes.

Questionado sobre o que a paciente deve priorizar no relato dos sintomas, o médico sugeriu a anotação dos episódios de dores e desconfortos para auxiliar na investigação do caso. “É interessante fazer um apanhado do que vem sentindo. É sempre recomendado, se possível, anotar suas queixas. Por ser uma doença crônica, anotar se sentiu dores durante a relação sexual, algum desconforto para urinar, desconforto para evacuar. Lembrando que as vezes vamos a um médico especialista e acabamos direcionando seus problemas para aquele órgão ou para aquele sistema que o medico atende. Mas a endometriose pode estar associada a dor nas costas, existem relatos de sangramentos nasais por focos de endometriose no nariz, em cicatrizes e pode ter dor nas cirurgia durante o período menstrual. Então ela realmente precisa descrever os sintomas quanto a intensidade, quanto ao tempo que vem sentindo, tratamentos que já foram feitos e assim a gente conseguir ter a suspeita dessa patologia”.

Tratamento

Sobre o tratamento, dr. Tarcísio relatou ser feito com o uso de medicações adequadas ao combate dos sintomas. “Com a suspeita já podemos iniciar o tratamento com uma primeira linha com anti inflamatórios para controle da dor. Também com o uso de contraceptivos porque a endometriose é alimentada pela produção hormonal feminina. Então, quando a gente inicia com os anticoncepcionais eles vão bloquear esse hormônio feminino, de modo que vai conseguir ter uma melhora dessa dor. E, infelizmente, por ser uma dor crônica essa mulher pode ter o comprometimento neuropático da dor, que é necessitam de outra linha de tratamento, que pode ser desde medicação até acupuntura e outros meios de redução e controle da dor”.

Nos casos em que a endometriose levar a infertilidade da paciente, é possivel recorrer aos métidos de fertilização. “A infertilidade também precisa ser lembrada e a endometriose pode chegar ao ponto de, para poder engravidar, da fertilização in vitro que, infelizmente, não é tão acessível para toda a população”.

Casos na região

Sobre os números da doença na região, o medico apontou para uma ocorrência relevante. “É uma incidência importante entre as mulheres e esse diagnóstico acaba sendo um pouco tardio. Nós temos, como você me perguntou no início da nossa conversa, entre os métodos de diagnóstico, a ultrassom transvaginal vai identificar mais a parte da endometriose chamada de endometrioma, que é a doença do ovário. Outra forma de apresentação em exames é a endometriose no peritônio, no reto, em outras parte do intestino. Nem todo local se faz esse exame, é um tipo de ultrassom mais especializado. E outro exame de imagem, ou seja, que não é invasivo, que é a ressonância nuclear magnética em que o radiologista vai olhar com mais especificidade a procura de endometriose, é um exame de alto custo. Então, a gente tem um diagnóstico mais presuntivo de mulheres que tem sintomas, que tem queixas e que melhoram com o tratamento. Não é incomum, principalmente se a gente for falar dos serviços especializados se a gente for pegar ambulatórios do município, de ginecologia, ambulatórios do IMIP também, é que a gente pode ter atendimentos de mulheres que tem essa dor, toda clínica e que a forte suspeita é de endometriose. Portanto, de forma geral, é algo bastante incidente”.

Conselhos

“Os bons hábitos vem como prevenção para qualquer doença de modo geral. Mas a atividade física, uma alimentação saudável, uma vida que a gente sempre buscar, sem estresse, o que é muito difícil, mas às vezes a gente consegue momentos de relaxamento, ajudam diminuir essa patologia e evitar a automedicação, o auto tratamento, procure ajuda de um profissional habilitado para que consiga, de fato fazer um diagnóstico com condução adequada”, finalizou Tarcísio Menezes.