Juiz Marcos Bacelar destaca desafios e medidas no combate à evasão escolar e dependência de drogas entre jovens em Petrolina

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Em entrevista ao programa Nossa Voz, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Petrolina, Marcos Bacelar, falou sobre as ações em andamento no município para combater a evasão escolar e a dependência de drogas entre adolescentes. Durante a conversa, o magistrado abordou questões de conscientização das famílias, o papel da escola, e as dificuldades enfrentadas pela rede de proteção ao lidar com jovens em situação de rua e vulnerabilidade.

“Na verdade, o poder público tem feito um esforço imenso no tocante a trazer esses alunos para a sala de aula. De forma geral, posso afirmar que há uma dedicação significativa dos professores e gestores para que a frequência escolar se mantenha. No entanto, o que percebemos é que muitos dos problemas de assiduidade não se originam na escola ou no ambiente educacional, mas sim em casa. Infelizmente, essa é uma realidade que exige uma postura mais assertiva e afetiva dos pais, que precisam reconhecer e transmitir para seus filhos a importância da educação, do comprometimento com o aprendizado. É claro que o trabalho é essencial para os jovens, mas é igualmente importante que essa ocupação seja compatível com a educação, respeitando a idade mínima e o horário escolar”, explicou Bacelar, destacando a necessidade de uma conscientização mais ampla entre as famílias.

O juiz também mencionou a questão das drogas, que afeta de forma crescente a juventude em Petrolina. “Além da questão da evasão escolar, não podemos ignorar o impacto devastador das drogas na vida dos jovens. Há um aumento significativo do envolvimento de adolescentes com entorpecentes, algo que não se limita apenas às áreas periféricas. Vemos, hoje, muitos jovens em situação de rua, expostos a todo tipo de risco, bem no centro de Petrolina. Essa é uma realidade que tem preocupado a todos nós. A rede de proteção, incluindo os agentes da Vara da Infância e Juventude, os conselheiros tutelares e a Secretaria de Ação Social, têm atuado de maneira incansável para combater esse problema, mas ainda enfrentamos muitas barreiras”, relatou.

Bacelar também expôs as dificuldades legais para tratar casos de jovens em situação de rua que apresentam dependência química. “Uma das grandes limitações que enfrentamos atualmente é a questão da internação compulsória. Hoje, em Petrolina, contamos com uma unidade que realiza trabalhos relacionados à desintoxicação de dependentes químicos. No entanto, esse atendimento não permite internamento compulsório, o que acaba limitando nossa capacidade de ação. Recentemente, realizamos uma reunião com representantes da saúde, da rede de assistência social e com o Conselho Tutelar, justamente para debater a necessidade de estratégias mais firmes e eficazes para lidar com essa questão. Infelizmente, ainda esbarramos na legislação vigente, que não permite uma abordagem mais assertiva no que tange à internação compulsória. Acredito que, em casos extremos, onde o vício já compromete seriamente a vida do adolescente, deveríamos ter a possibilidade de determinar uma internação com duração mínima de 60 a 90 dias, tempo necessário para estabilizar a condição do jovem e tentar uma recuperação”, argumentou o juiz.

Ele ressaltou que, em sua experiência, casos de sucesso na recuperação de jovens dependem fundamentalmente do apoio familiar. “Em 100% dos casos que obtivemos êxito, a presença e o envolvimento da família foram decisivos. Para educar, não existe uma fórmula pronta, mas posso dizer que existem ingredientes que são indispensáveis: amor, respeito e limites. Se a relação entre pais e filhos é baseada em respeito recíproco e amor, além de haver um estabelecimento claro de limites, há chances de um bom resultado. A falta desses elementos torna o processo muito mais difícil. Em Petrolina, temos a felicidade de contar com uma rede de proteção integrada, que age de forma coordenada para tratar esses jovens. Conseguimos recentemente criar um fluxograma para atendimento em casos de saúde mental entre adolescentes, o que tem sido muito bem recebido. Participei da Jornada Pernambucana de Magistrados, onde compartilhamos essa experiência, e outros juízes se mostraram muito interessados em adotar algo semelhante em seus municípios. Essa articulação é fundamental para que as ações sejam mais eficazes, mas, sem o respaldo familiar, o caminho é bem mais árduo”, afirmou Bacelar.

Quanto ao papel da escola no combate à evasão e no desenvolvimento integral do aluno, o juiz foi enfático em reconhecer a dedicação dos professores. “Sempre faço questão de valorizar o trabalho dos professores. São verdadeiros heróis, que cuidam de turmas de 40, 50 alunos todos os dias. Eu, como pai de dois filhos, sei o desafio que é criar e educar, então imagino a dificuldade de lidar com tantos jovens simultaneamente. A escola pública de Petrolina, de modo geral, tem um papel muito positivo, e os professores têm um compromisso genuíno com o desenvolvimento cognitivo e emocional dos alunos. No entanto, há algo que precisa de mais atenção e é uma questão recorrente: o uso de celulares em sala de aula. Temos uma lei estadual desde 2015 que proíbe o uso de celulares nas escolas, exceto para atividades pedagógicas. No entanto, percebemos que essa norma não tem sido rigorosamente aplicada, e isso afeta o aprendizado. Alguns países europeus estão restringindo o uso de dispositivos conectados à internet em escolas, pois identificaram que o uso desenfreado impacta negativamente o desempenho dos estudantes. Precisamos que as escolas aqui também apliquem a legislação com mais rigor, para que o ambiente de aprendizado seja respeitado”, sugeriu o magistrado.

Por fim, Bacelar destacou a importância de iniciar a conscientização sobre o uso de celulares em casa. “É claro que essa educação precisa começar na família. Não adianta proibir o uso de celulares nas escolas se, desde cedo, os pais incentivam o uso do aparelho como ferramenta de distração. Eu mesmo vi recentemente, durante uma missa, duas crianças que ficaram absolutamente quietas o tempo todo, mas isso porque estavam vidradas em seus celulares. Os pais precisam entender que, ao dar um celular para uma criança, eles estão estabelecendo um hábito que será muito difícil de reverter no futuro. É essencial que essa conscientização sobre o uso de tecnologia seja trabalhada em conjunto com a escola e a família, para que consigamos formar uma geração de jovens mais focada e menos dependente desses dispositivos”, concluiu o juiz.