Nesta quarta-feira (18), uma entrevista ao programa Nossa Voz Aqui reuniu Valdemir Cícero dos Santos, da Pastoral do Agricultor, Padre Luciano Lima, e Edson Alves, também da Pastoral do Agricultor, para discutir as dificuldades enfrentadas pelos agricultores e famílias assentadas no Sistema de Irrigação de Itaparica. O grupo destacou a mobilização das comunidades e a caminhada prevista para amanhã (19) em Petrolina.
Edson Alves, da Pastoral do Agricultor, ressaltou a história e a importância do projeto Itaparica, iniciado na década de 1980 como parte do processo de realocação de famílias para a construção da Hidrelétrica de Itaparica. “Muitos não sabem, mas é um projeto público de irrigação criado para atender famílias que foram retiradas de suas terras. Desde então, o governo assumiu responsabilidades, junto à Codevasf e à antiga Eletrobras, que hoje está privatizada. Infelizmente, os recursos têm diminuído ao longo dos anos. Hoje, os agricultores lidam com um orçamento irrisório, de apenas 1 milhão de reais, que não cobre nem a operação nem a manutenção do sistema, muito menos a energia elétrica. Esses problemas afetam diretamente a produção agrícola, essencial para a economia local e para a geração de empregos,” explicou.
Sobre a mobilização, Padre Luciano Lima destacou o papel da caminhada na luta pelos direitos dos assentados. “Amanhã (18), às 7 horas da manhã, nos concentraremos na orla de Petrolina. Essa caminhada não é apenas dos assentados, mas também dos povos originários, quilombolas e movimentos sociais. A união dessas forças reforça o pedido de revitalização do sistema de irrigação e a implementação de soluções como a energia solar. É doloroso ver pequenos agricultores fazendo vaquinhas para pagar funcionários e manter as bombas funcionando, enquanto a energia elétrica é cortada. Isso afeta desde o consumo humano até a produção de legumes e verduras.”
Valdemir Cícero, outro representante das pastorais, enfatizou a situação crítica vivida pelos agricultores. “Estamos há 17 dias em vigília, protegendo subestações para evitar o corte de energia. A dívida acumulada do governo com a Neoenergia já ultrapassa 38 milhões de reais. É uma humilhação para os pequenos agricultores e para a agricultura familiar. Muitos pais de família estão deixando suas plantações para vigiar estas estações. Recentemente, vimos escoltas armadas pressionando os agricultores, o que só agrava a situação.”
Ele também destacou a falta de responsabilidade por parte das diferentes esferas do governo. “Quando conversamos com o governador, ele diz que é problema federal. O prefeito alega que é problema estadual. E assim, o jogo de empurra continua, enquanto nós, cidadãos, somos obrigados a nos humilhar e a confrontar empresas e órgãos para garantir nossos direitos básicos. É desumano.”
O Sistema Itaparica, que abrange municípios de Pernambuco e Bahia, sofre com a ausência de uma gestão eficaz e com a dependência de emendas parlamentares. A falta de manutenção adequada e o endividamento crescente colocam em risco não apenas a agricultura familiar, mas também o abastecimento de água para consumo humano.
A caminhada da água, que será realizada amanhã, busca chamar a atenção das autoridades para a urgência dessas questões e pressionar pela votação de projetos que possam resolver o impasse. “Queremos que a população participe e apoie essa luta. É hora de mostrar força e exigir que nossos representantes assumam suas responsabilidades,” concluiu Padre Luciano.
A expectativa é que a mobilização ressoe em Brasília, sensibilizando o governo federal e as autoridades responsáveis a tomarem medidas concretas para solucionar o problema.