O Dia do Agricultor, além das homenagens que devem ser feitas aos integrantes desta categoria, também foi marcado pelo debate das demandas e melhorias necessárias para o pleno desenvolvimento das suas atividades, fundamentais para toda a sociedade. Apesar das inúmeras tecnologias e legislações voltadas para a agricultura, ainda existem entraves que prejudicam a lucratividade e até desestimulam a sucessão no campo, o que a longo prazo, pode acarretar na redução de ofertas de alimentos.
Em Petrolina, há um cenário diferenciado no ramo agrícola. Além de aliar o cultivo tecnificado de frutas, o que agrega melhor valor no mercado, a sua extensão territorial traz diferentes realidades para os agricultores. Segundo a presidente do Sindicato dos Agricultores Familiares de Petrolina, Isália Damascena, é possível caracterizá-los em três regiões:Área irrigada, área de sequeiro e área ribeirinha.
“Nas áreas irrigadas, esses agricultores estão numa situação mais privilegiada, apesar de atualmente não vivenciarem uma fase tão boa. Mas estão diferenciados porque têm a água, têm como produzir. Já a área de sequeiro é mais sofrida, depende muito das chuvas. Porém, há nesta região um diferencial hoje, dentro da área de sequeiro que é o Pontal Perenizado. É uma área de sequeiro que consegue molhar e produzir tanto quanto uma área irrigada, através da sobra de água do canal que percorre a região. E na parte ribeirinha, estão os agricultores que produzem às margens do Rio São Francisco”.
Nos perímetros irrigados, a realidade impressiona. Segundo dados do Distrito de Irrigação Nilo Coelho (DINC), que opera e administra o Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho, a área possui 23 mil hectares, com as culturas predominantes de manga (9,4 mil ha) e uva (6,3 mil ha), mas também comporta produtores de coco (2,25 mil ha), goiaba (1,2 mil ha), acerola (1,16 mil ha), banana (1,15 mil ha) dentre outras. O PSNC, fundado há 38 anos, exatamente no Dia do Agricultor, comporta atualmente mais de 2,3 mil produtores. Destes, 53 são grandes produtores, 317 médios produtores e quase 2 mil são pequenos produtores.
Esses números impressionam ainda mais quando há o comparativo com outros projetos públicos de irrigação. “Como a gente mede o potencial de produção agrícola? É muito comum as pessoas conhecerem o termo PIB, que mede a capacidade de produção de um país, de uma cidade. Quando a gente vai para a agricultura tem uma sigla VPB, que é o Valor de Produção Bruto, que é a quantificação e a precificação de tudo que é produzido dentro de uma área agrícola. O VPB dos projetos de irrigação da Codevasf está em torno de R$ 3,5 bi por ano. Dados do último levantamento feito pela Codevasf que tem em torno de 35 projetos espalhados ao longo da calha do Rio São Francisco. E só para se ter ideia do que é Petrolina neste cenário e o que é o Projeto Senador Nilo Coelho, dos R$ 3,5 bi, o Nilo Coelho representa R$ 1,9 bi. Não apenas por causa do tamanho, é um projeto com 23 mil hectares, mas isso se deve muito mais a concentração de cultura que nós temos que têm um valor agregado muito alto, que são a uva e a manga, a uva principalmente”, explicou o gerente executivo do DINC, Paulo Sales, .
Ainda segundo Sales, o Projeto Irrigado Tourão; localizado em Juazeiro (BA) e que também é de responsabilidade da Codevasf, tem mais de 14 mil hectares com 90% da produção voltada para a cana de açúcar; possui o VPB em torno de R$ 500 mi, R$ 600 mi. “Mesmo considerando que é uma área próxima, mas o valor agregado do VPB é muito baixo porque é um produto que é feito para ser transformado. Quem produz cana, quer produzir combustível ou açucar”.
Outros números do PSNC impressionam ainda mais, quando falamos em densidade demográfica dos núcleos habitacionais localizados naquela região. Segundo um levantamento feito entre 2009 e 2010 pelo Banco Mundial, a área tem uma população estimada de 60 mil pessoas. Para o gerente do DINC, hoje há muito mais. “Eu coloco esse número, fácil, fácil, com 90 mil. Isso é mais do que 80% dos municípios de Pernambuco tem em termos de concentração populacional. E a gente começa a chamar a atenção quando tratamos destes assuntos, porque isso é importante, mas a gente começa a enxergar que esse fator de sucesso que Petrolina, que o projeto tem e que traz pessoas para virem para cá começa agora a ter que chamar a atenção dos governantes, das nossas autoridades, com um olhar um pouco mais sensível para as áreas irrigadas. Porque a gente vem enchendo as cidades e começamos a tratar de problemas sociais que sempre existiram, mas que agora vão se potencializar, sobretudo a questão de lixo dentro dos projetos, do próprio ordenamento de ocupação dessa áreas, manutenção de estradas, que a gente vem sempre batendo, sempre tocando desta tecla”, relembrou.
E no Dia do Agricultor, é óbvio que o produtor de frutas não poderia ficar de fora deste debate. Francisco de Assis Nunes da Silva, o Chiquinho do Muquém, relatou ao Nossa Voz um pouco da sua história na lida do campo. “O agro passa por algumas mudanças, em relação ao tempo do meu pai no Projeto Bebedouro, a gente saiu daquela agricultura convencional para uma agricultura totalmente tecnificada e muito mais exigente pelos mercados interno e externo. Então, isso é necessário para estar no mercado de produção de frutas, que são consumidas in natura, que é um mercado muito exigente, hoje a gente quer parabenizar a todos os produtores pela qualificação, pelo avanço e pela busca de fazer cada dia melhor a agricultura no Vale do São Francisco”, pontuou.
Apesar das dificuldades, Chiquinho reforçou sua vocação para o campo e demonstrou otimismo mesmo diante do cenário desfavorável. “É gostoso demais ser produtor. Se eu tivesse que morrer e voltar, ia querer ser produtor de novo. Mas tem os altos e baixos. Tem hora em que o produtor está sorrindo, satisfeito da vida, produziu bem, vendeu bem, recebeu, mas muitas vezes tem os atropelos. Estamos vivenciando um ano totalmente atípico. Nos últimos tempos, nunca tivemos um ano como esse. Já tivemos três meses de chuvas no vale, esse ano estamos com oito meses. Ontem mesmo choveu na região.Então, isso traz muita incidência de fungos, doenças, de mais custos com defensivos, de perdas de fruta madura no campo. É um ano totalmente atípico, mas quem é da agricultura sabe que tem esses altos e baixos. Para o ano, com certeza, Deus vai dar uma condição bem melhor para a gente”, profetizou.
Dia do Agricultor
O Dia do Agricultor é celebrado em 28 de julho, data criada em razão de ter sido nesse dia, em 1960, a fundação do Ministério da Agricultura, no mandato de Juscelino Kubitschek.
O agricultor possui uma ampla relevância na economia brasileira e também para a população mundial.
A agricultura, que pertence ao setor primário da economia, encarrega-se – ao lado dos setores extrativistas – de produzir, além dos alimentos, as matérias-primas que são empregadas na fabricação de mercadorias. Além disso, a agricultura vem ganhando um maior peso na produção de energia em virtude do cultivo de vegetais utilizados na biomassa, com destaque para os biocombustíveis.