Instagram e Facebook não podem usar dados de brasileiros para treinar IAs, decide autarquia

0
Foto: Reprodução/Pixabay

A  Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) proferiu, nesta terça-feira (2), medida preventiva contra a Meta —dona do Instagram, Facebook e WhatsApp— para suspender imediatamente o uso de dados de usuários para treinar modelos de inteligência artificial generativa.
 

A ANPD justifica a decisão pelo “risco iminente de dano grave e irreparável ou de difícil reparação aos direitos fundamentais dos titulares afetados” e determinou uma multa de R$ 50 mil por dia de descumprimento.
 

A Meta começou a utilizar as publicações abertas de usuários do Facebook e do Instagram para treinar IAs generativas (como o ChatGPT), segundo a alteração que a big tech fez em sua política de privacidade em 22 de maio. A mudança nos termos de uso não foi divulgada em informe público no Brasil, que concentra 113,5 milhões de pessoas ativas no Instagram e 102 milhões, no Facebook.
 

Procurado, o conglomerado de mídias sociais diz cumprir as leis de privacidade e regulações do país. “Treinamento de IA não é algo único dos nossos serviços, e somos mais transparentes do que muitos participantes nessa indústria que têm usado conteúdos públicos para treinar seus modelos e produtos”.
 

A página da política de privacidade da Meta que trata do uso de dados pessoais para treinamento de modelos de IA generativa segue no ar na manhã desta terça-feira (2), assim como o formulário para se opor à prática.
 

Em seu pronunciamento, o conglomerado diz que a decisão da ANPD atrasa a chegada de benefícios da IA para as pessoas no Brasil.
 

Uma dessas soluções é o gerador de figurinhas do WhatsApp, que relacionou fuzis a pessoas negras em teste feito pela Folha de S.Paulo. Essas tecnologias geram textos, imagens e áudios, em respostas condicionadas por quantidades massivas de dados —o processo é chamado de treinamento.
 

Na avaliação de ANPD, há indícios “de tratamento de dados pessoais com base em hipótese legal inadequada, falta de transparência, limitação aos direitos dos titulares e riscos para crianças e adolescentes”. Foram essas as constatações preliminares para sustentar a medida preventiva.
 

A Meta pode recorrer ao conselho diretor da ANPD para reverter a decisão cautelar.
 

A área técnica da agência reguladora conduzirá posteriormente uma análise detalhada das condutas da dona do Instagram, a fim de tomar uma decisão definitiva.
 

A autoridade de proteção de dados diz que, embora os usuários pudessem se opor ao tratamento de dados, “havia obstáculos excessivos e não justificados ao acesso às informações e ao exercício desse direito”. O acesso ao formulário para pedir interrupção desse uso de informações pessoais requeria passar por cinco páginas de configurações no Instagram, como mostrou a Folha de S.Paulo.
 

A avaliação preliminar também indicou que dados pessoais de crianças e adolescentes, como fotos, vídeos e postagens, poderiam ser coletados e utilizados para treinar os sistemas de IA da Meta. Segundo a LGPD (Lei Geral de Proteção e Dados), o tratamento de dados de crianças e de adolescentes deve ser sempre realizado em seu melhor interesse, com a adoção de salvaguardas e medidas de mitigação de risco, “o que não foi verificado” nessa primeira análise da ANPD.
 

Segundo advogados consultados pela reportagem, esta é a primeira vez que a autoridade de proteção de dados impõe uma medida preventiva contra um gigante da tecnologia. “É um marco importantíssimo”, diz o diretor da associação Data Privacy Brasil, Rafael Zanatta.
 

A decisão da agência reguladora foi tomada em resposta a questionamento do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores) sobre a política da Meta. Para o instituto, a conduta caracteriza violações à LGPD e ao Código de Defesa do Consumidor (CDC).
 

O Idec disse que a holding anunciara as alterações da política de privacidade apenas na Europa. “A Meta trata os brasileiros como cidadãos de segunda classe. Mudar as regras e dificultar o acesso a direitos por parte dos consumidores é uma prática comum dela em relação à sua política de privacidade”, afirmou a advogada do Idec, Marina Fernandes, em comunicado.
 

No último dia 14, a Meta decidiu adiar o lançamento de seu pacote de IA, Meta AI, na União Europeia (UE), após o órgão regulador europeu ter pedido mais informações à empresa sobre como seria o tratamento de dados direcionado ao desenvolvimento de modelos de inteligência artificial, que tinha data de início planejada para 26 de junho nos países do bloco.
 

A política de mineração de fotos de usuários brasileiros do Facebook e do Instagram, entretanto, continuou.
 

Nos Estados Unidos, onde não há legislação de proteção de dados, usuários reclamam de negativas da Meta ao pedido de oposição ao uso de dados pessoais para treinamento de IAs generativas, de acordo com o New York Times.
 

O Idec também acionou a Senacon (Secretarina Nacional do Consumidor) para denunciar uma possível omissão da empresa em relação ao dever de orientar o consumidor.
 

“A Meta deveria garantir aos titulares informações claras, precisas e facilmente acessíveis por meio, tanto de sua política de privacidade, quanto ostensivamente por mensagens e emails, como ocorreu na UE”, disse a entidade na notificação à Senacon.
 

COMO EVITAR QUE O INSTAGRAM USE SEUS POSTS PARA TREINAR A IA:
 

– Acesse o seu perfil e vá até a seção de configurações, sinalizada por três barras no canto superior direito
 

– Clique na opção “sobre”, localizada no fim da página
 

– Selecione a política de privacidade. Nessa nova página, as três barrinhas no canto superior direito levam ao centro de privacidade
 

– Clique na seta ao lado de outras políticas e artigos e selecione a opção “Como a Meta usa informações para recursos e modelos de IA generativa”
 

– No décimo nono parágrafo, sem contar tópicos, está a opção “direito de se opor”. Clique nela.
 

– Preencha e envie o formulário. A Meta confirma a identidade com um código numérico enviado ao email cadastrado na conta. Depois, é só esperar a confirmação do opt-out. Pode levar alguns minutos. (Fonte: Folhapress) (Foto: Reprodução/Pixabay)